AVALIAÇÃO DO 3º ANO PARA PRÓXIMA QUARTA DIA 09/12
Origens e etapas da industrialização no Brasil
A atividade industrial no Brasil teve início no
período colonial. Sua história, entretanto, não se caracteriza por uma evolução
sistemática. As atividades agrícolas e o extrativismo absorviam os poucos
capitais e a mão-de-obra, só dando margem, naquele período, às indústrias
caseiras, à agro-indústria do açúcar, a pequenas indústrias no litoral, e aos
estaleiros em que se construíam embarcações de madeira.
A população extremamente rarefeita, mesmo ao longo da costa;
as dificuldades de transporte, decorrentes das distâncias; o regime da
escravidão e do latifúndio, e a própria política da metrópole, que proibia, em
1766, a prática do ofício de ourives, e por carta régia de 1785, todas as
manufaturas de fumo, panos e bordados, foram outros tantos obstáculos a
qualquer surto de manufaturas de valor. Tal situação se prolongou através do
primeiro e do segundo reinado, quando ainda faltavam todos os elementos para
uma indústria autônoma, concentrada e mecanizada, que procura a proximidade das
fontes de energia, de matéria-prima, da clientela, dos transportes e,
sobretudo, da mão-de-obra. Na verdade, só depois da transferência da corte de
D. João para o Brasil foram revogados os editos que vedavam até a existência de
depósitos de salitre, fechavam as fábricas têxteis e mantinham a proscrição das
fundições de ferro instaladas em São Paulo e Minas. Depois da independência, o
reconhecimento pelas potências européias só se tornou possível mediante a
concessão de tarifas especiais para os produtos britânicos, concessão que
vigorou até 1844.
Um antigo empregado de firma
britânica no Brasil, que conseguiu estabelecer-se e expandir seus negócios,
tornando-se um homem de finanças que acompanhava o surto industrial da Europa,
Irineu Evangelista de Souza, teve o descortino de tentar o caminho da
indústria, sem levar em conta, entretanto, o grave obstáculo que representava o
escravismo, inviável à criação de um mercado nacional. Não obstante isso,
registraram-se algumas iniciativas no campo da indústria. Surgiu a fundição de
tubos de encanamento de água do rio Maracanã, no Rio de Janeiro. O estaleiro
montado na Ponta da Areia, em Niterói, ampliou a construção naval do país,
fabricando setenta navios em pouco mais de dez anos. Ligada ao impulso dos
serviços urbanos, criou-se a primeira empresa de iluminação a gás. Organizou-se
uma companhia de navegação no rio Amazonas. Em 1870, estimou-se em 742 mil
contos de réis, quantia avultada para a época, a produção industrial do Brasil.
O governo monárquico, todavia, voltava-se mais para as obras públicas do que
para prestigiar as iniciativas da indústria privada nacional e o surgimento e
consolidação de um empresariado vinculado aos interesses do país.
Construíram-se, desse modo, portos
para atender às necessidades do comércio externo. As estradas de ferro se
prolongaram, mas só a partir de 1870, vindo a interessar capitais ingleses e
desempenhar um papel mais dinâmico na economia do país. Instalaram-se
companhias de força elétrica, de bondes, de telefones, de luz, de telégrafos,
por iniciativa do capital estrangeiro ou vindo a ser concedidas a este.
No período da primeira guerra
mundial, instalaram-se no Brasil cerca de 5.940 empresas industriais,
compreendendo-se aí a produção de uns trinta artigos novos. Mas dentre essas
indústrias não figurava a indústria mecânica nem os bens fundamentais capazes
de possibilitar a criação da base industrial do país. Na década de 1940, pela
primeira vez o valor da produção industrial brasileira ultrapassou o da
produção agrícola, elevando-se a 13.000.000 de contos de réis, contra
8.590.000.
Verdadeiramente, só na década de
1940 o Brasil logrou a primeira iniciativa industrial de vulto, que iria servir
de base a uma modificação na sua estrutura econômica. Esta se verificou em face
de circunstâncias criadas pela segunda guerra mundial. Necessitando instalar
bases aéreas no território brasileiro para o trânsito dos seus aviões de guerra
para a África e Europa, os E.U.A. negociaram a implantação de uma unidade siderúrgica que veio a constituir a Companhia Siderúrgica
Nacional, pertencente ao Estado. A usina de Volta Redonda desempenhou, de fato,
o papel de célula-mater da indústria
pesada nacional, propiciando ao longo de sua atividade, a criação de novas
indústrias e a expansão siderúrgica.
Outro passo importante no sentido de
uma industrialização autônoma foi a instituição do monopólio estatal do
petróleo, mediante a criação da Petrobrás por meio da lei 2.004, de 3 de
outubro de 1953. A descoberta do lençol petrolífero do Lobato, na Bahia, em
1937, propiciou uma modificação no código de minas e a posterior instituição do
Conselho Nacional do Petróleo, a fim de orientar o problemas do ponto de vista
brasileiro.
Para levar adiante o processo de
desenvolvimento industrial, os países adotam uma série de medidas que
caracterizam suas opções. O conjunto dessas medidas e a orientação que lhe é
implícita constituem a política industrial. No caso brasileiro, a
industrialização se iniciou tardiamente, o que leva o país a realizar grandes
esforços, visando a diminuir a distância que o separa dos países desenvolvidos.
A dependência do mercado externo e a desigual distribuição da renda, que
restringe o mercado interno, constituem ainda aspectos negativos para a
industrialização do país.
Fatores ligados aos grandes
acontecimentos econômicos mundiais, profundos movimentos políticos internos,
condições peculiares da região, a política industrial seguida pelos governos -
têm importância determinante em relação as avanços industriais. Na América
Latina, cujos países durante longo tempo se mantiveram na posição de
fornecedores de matérias-primas para clientes industriais, tornou-se evidente
que a substituição das importações constituía uma exigência imperiosa para a
industrialização e o desenvolvimento econômico. A partir da década de 1930 se
fez sentir particularmente nesses países o enfraquecimento do setor externo. No
Brasil, contudo, os sinais de debilitamento desse setor ocorreram bastante
antes, após o auge da borracha amazônica, que precedeu a primeira guerra
mundial. Mas o país, essencialmente agrícola, como era qualificado,
simplesmente intensificou as exportações de café, reforçou o comércio de
algodão e do cacau, sem vislumbrar ainda os rumos de uma política de
substituição das importações.
O deslocamento progressivo do centro
do comércio internacional, do Reino Unido para os E.U.A., e medidas tomadas por
esses dois países durante a crise, entre as quais sobressaem as fortes
restrições protecionistas norte-americanas de 1930, tiveram conseqüências
funestas para as economias dos países latino-americanos. A gravidade de tais
reflexos, em cada país, fez-se sentir em função do coeficiente da importação e
da estrutura industrial de que este já dispusesse, para nessa estrutura apoiar
seus esforços de substituição das importações. Rapidamente recuperado em
seguida à década de 1930, não prosseguiu de maneira favorável a evolução
posterior desse coeficiente: o descenso continuou até a década de 1950.
O Brasil constitui-se na América Latina
no país de mais baixo coeficiente de importação, o que representou um fator
decisivo para o crescimento do volume da produção industrial interna. Iniciada
a expansão do incipiente parque industrial com as indústrias de bens de
consumo, procurou-se atingir, nos últimos anos, uma fase mais avançada, a da
produção de bens de equipamento e materiais básicos indispensáveis à aceleração
do ritmo do crescimento geral. Sensíveis desequilíbrios ainda se fazem notar,
principalmente nos ramos produtores de matérias-primas básicas, a exemplo do
que acontece com alguns produtos siderúrgicos e químicos que demandam vultosos
investimentos e alta técnica de que carece a economia nacional. Em termos
absolutos, segundo o relatório anual do BID (1969), o Brasil desfrutava em 1968
do maior crescimento industrial da América Latina, tendo superada a Argentina,
a partir de 1962 (a taxa de crescimento industrial do Brasil entre 1961 e 1968
era de 5,2% contra 2,5% da Argentina). Tal resultado foi obtido em virtude de
um elenco de providências governamentais, incluindo isenção de impostos,
abatimentos no imposto de renda e correspondentes incentivos fiscais, relativos
não só às exportações, o que representou, em 1968, um aumento de 15% na
produção industrial que participou com 28% do produto interno bruto. Tal
posição, por sua vez, se reflete no mercado externo.
Em 1970 o objetivo da economia
brasileira era deixar de depender exclusivamente da substituição das
importações, ultrapassar a fase da exportação de gêneros alimentícios e
matérias-primas da produção primária e ampliar a pauta exportável com variados
produtos industriais. As metas mínimas estabelecidas para o período 1970-1973
estabeleciam o crescimento anual de 9 a 11% para a indústria manufatureira e a
mineração; 9 a 11% para a indústria siderúrgica; 7 a 9% para o setor enérgico.
Influindo fortemente na composição da taxa de crescimento industrial da América
Latina, em que ocupa o primeiro lugar, em 1973, o Brasil divide com a
Argentina, a Colômbia e o México, a responsabilidade por 80% da produção
industrial dessa parte do mundo.
A grande concentração industrial na Região Sudeste
Buscando as causas que influem na distribuição
espacial da atividade industrial, podem se destacar dois fatores:
·
fatores
histórico-econômicos (mão-de-obra, capital, mercado consumidor - interno e
externo - tecnologia, transportes etc.);
·
fatores naturais,
isto é, aqueles que derivam das condições naturais de uma certa área ou região
(matérias-primas e fontes de energia, por exemplo).
Após a decadência da agroindústria
canavieira do Nordeste, no século XVII, e a descoberta de metais preciosos nas
Minas Gerais, a Região Sudeste começou a estruturar-se como área de atração de
população e de inversão de capitais. Data, inclusive, dessa época, a mudança da
capital político-administrativa da colônia, de Salvador para o Rio de Janeiro,
cidade mais próxima da atividade mineradora. Esse fato constitui-se de grande
importância no crescimento da cidade do Rio de Janeiro e de sua área próxima,
pois essa cidade tornou-se o centro de intercâmbio comercial. Através de seu
porto, estabelecia-se o contato com o exterior e com as outras regiões do
Brasil.
Quando ocorreu a decadência da atividade mineradora, os trabalhadores
das minas deslocaram-se em busca de solos mais férteis onde pudessem
desenvolver uma agricultura de maior rendimento, encontrando-os no norte e
nordeste de São Paulo.
No início do século XIX, a
cafeicultura, vinda do Rio de Janeiro, penetrava em solo paulista e, logo em
seguida, atingia os solos férteis do planalto ocidental (as terras roxas). Além
de atrair populações de outras regiões e áreas do Brasil, a expansão da
cafeicultura requisitou mão-de-obra estrangeira, representada por imigrantes
italianos, espanhóis, alemães e outros. Além disso estimulou o desenvolvimento
ferroviário e a concentração financeira.
A instalação da corte portuguesa no
Rio de Janeiro, a partir de 1808, também contribuiu para dinamizar não só a
cidade, mas também a área próxima à capital.
A crise da cafeicultura de 1929/30
possibilitou que muitos recursos financeiros que eram aplicados nessa cultura
fossem transferidos para a atividade industrial.
Vê-se, então, que desde o século
XVIII, o Sudeste foi-se estruturando como área de atração de população e de
capitais, tornando-se a região concentradora da riqueza. Assim, o mercado
consumidor e financeiro que aí se formou, o crescimento das cidades,
principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, o desenvolvimento ferroviário e
rodoviário, ao lado de recursos naturais favoráveis (potencial hidrelétrico,
recursos minerais, solos férteis) e ainda o fluxo imigratório estrangeiro que
trouxe técnicas de produção influíram na concentração espacial da atividade
industrial nessa região.
Em tempos recentes, essa posição do
Sudeste reafirmou-se, em vista de que, no governo do Presidente Juscelino
Kubitcshek (1956-1961), o Plano de Metas deu ênfase à concentração industrial
nessa região e particularmente em São Paulo. Os planejadores acreditavam na
necessidade de se criar um grande pólo de
desenvolvimento, tendo São Paulo como centro e que a partir do mesmo o
desenvolvimento se propagaria, em círculos concêntricos, contagiando as outras
áreas e regiões do país. Em vista dessa interpretação, o governo de JK
canalizou grandes investimentos públicos em infra-estrutura (energia e
transportes, além de siderúrgicas) e empréstimos para a expansão econômica de
São Paulo e, em menor escala, do Rio de Janeiro e do sul de Minas Gerais.
Essa orientação aprofundou ainda
mais os desequilíbrios regionais já existentes e consolidou a posição do
Sudeste, como a região de forte concentração industrial, financeira,
populacional e de renda. Desse modo, a Região Sudeste tornou-se o centro das
decisões do país, exercendo forte polarização sobre as demais regiões.
Repetiam-se, assim, ao nível
interno, isto é, entre as regiões do Brasil, as relações de dominação e
exploração espacial, exercidas pela metrópole
sobre a colônia, no passado, ou pelos
países centrais (E.U.A. e países da Europa Ocidental e Japão) sobre os países
periféricos (países subdesenvolvidos) na atualidade.
A Região Sudeste tornou-se a
produtora de manufaturados e exportadora dos mesmos para as demais regiões do
país, a preços elevados e, estas, fornecedoras de mercados consumidores e de
matérias-primas a preços baixos. Reproduziam-se, assim, ao nível interno, as
relações coloniais do passado e do presente entre os países.
A tabela seguinte fornece uma idéia
da concentração industrial na Região Sudeste e da participação das demais
regiões na atividade industrial do país.
Brasil: Distribuição dos estabelecimentos industriais,
pessoal ocupado e valor da produção industrial por região (1980
Regiões
|
Estabelecimentos industriais
|
Pessoal ocupado
|
Valor da produção industrial
|
SUDESTE
|
58%
|
66,3%
|
73%
|
SUL
|
20,3%
|
19,4%
|
16,2%
|
NORDESTE
|
14,3%
|
10,0%
|
7,7%
|
CENTRO-OESTE
|
4,2%
|
1,8%
|
1,2%
|
NORTE
|
3,2%
|
2,5%
|
1,9%
|
BRASIL
|
100%
|
100%
|
100%
|
Tendências da industrialização no Brasil
Vem acontecendo gradualmente uma descentralização
industrial, ou seja, a implantação de indústrias em outras regiões do país, e
não só na Região Sudeste. Regiões que não se encontravam no “mapa” de empregos
agora oferecem centenas de empregos, a mão-de-obra está sendo procurada em
estados que antes as pessoas se viam obrigadas a virem para São Paulo, a fim de
trabalharem.
Entretanto, esta região continua centralizando e
polarizando a vida econômica nacional, reproduzindo, como já foi assinalado, ao
nível interno, o neocolonialismo que
se manifesta nas relações espaciais internacionais: de um lado os países
centrais e de outro os países periféricos ou satélites dos primeiros.
Bibliografia
Panorama
Geográfico do Brasil - Melhem Adas - Editora Moderna - 2ª edição - revista e
ampliada - págs. 263, 264
Enciclopédia
Mirador Internacional - Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
São Paulo - Rio de Janeiro - 1982 - volume 11 - págs. 6091, 6092
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