A DINÂMICA DA
POPULAÇÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
PROFº Giovanni
Guimarães
3.1. - O CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO
DA TERRA
3.1.2. - As taxas demográficas como
referenciais do desenvolvimento social e econômico.
A
população mundial é de cerca de 5.8 bilhões de habitantes. De acordo com Philip
Hartec, da Universidade de Stanford, se houvesse 100 habitantes na Terra,
57seriam da Ásia, 21 europeus, 8 africanos e 4 do hemisfério oeste (Américas);
52 seriam mulheres; 48 homens; 30% brancos. Apenas 6 pessoas, por sinal americanas,
concentrariam 59% da riqueza mundial. Apenas 1 teria educação superior.
Áreas
|
Pop. Absoluta (bilhões)
|
Pop. relativa
|
Mundo
|
5.7
|
42
|
Ásia
|
3.378
|
122
|
Europa
|
0.52
|
103
|
América
|
0.773
|
37
|
África
|
0.728
|
24
|
Oceania
|
0.023
|
2.6
|
C.E.I.
|
0.285
|
12.9
|
A
densidade demográfica ou população relativa - representa o número de habitantes
por km2, consistindo no quociente da população absoluta pela área
habitada por ela (d= pa¸ s). Diz-se que
um continente, país ou região é muito povoado quando possui uma grande
população relativa; é bastante populoso quando tem uma grande população
absoluta. Assim, por exemplo, os países mais populosos da Terra, em 1995,
são: China (1.27 bilhões), Índia (1 bilhão), Estados Unidos (276 milhões),
Indonésia (190 milhões), Brasil (158 milhões), Rússia (150), Japão (124),
Paquistão (124), Bangladesh (120) e Nigéria (110). Já os mais povoados são:
Bangladesh, Taiwan, Coréia do Sul, Holanda, Japão, Bélgica, Líbano, Índia,
Grã-Bretanha e Alemanha.
Países
|
Pop. Absoluta (milhões)
|
hab./km2
|
China
|
1270
|
127
|
Índia
|
1000
|
304
|
EUA
|
263
|
28
|
Indonésia
|
198
|
104
|
BRASIL
|
158
|
18.5
|
Rússia
|
148
|
8.6
|
Paquistão
|
128
|
159
|
Japão
|
125
|
370
|
Bangladesh
|
118
|
813
|
Desta
população absoluta da Terra 3,5 bilhões são pobres e 1 bilhão extremamente
pobres. Ao nos referirmos a área mais ou menos povoada está usando um critério
demográfico. No entanto, a propósito do superpovoamento
é mister se conceituar bem claro esta palavra que está relacionada a
condições sociais, econômicas e tecnológicas dos habitantes de uma área.
Segundo
o geógrafo Pierre George, pode-se conceber, teoricamente, a superpopulação
absoluta quando a população ultrapassa um limite máximo de povoamento e assim
não pode aumentar a produção ou distribuição de recursos necessários à sua
sobrevivência. Este limite é mais de ordem tecnológica e econômica do que
territorial - se a população ultrapassá-lo começa a baixar seu padrão de vida.
Portanto, quando grande parte da população não tem acesso aos recursos
produzidos, ou quando estes são pouco mobilizados em relação à totalidade dos
mobilizáveis (devido à pequena qualificação técnica ou pobreza da população)
podemos falar em superpovoamento relativo. O Brasil é grande, muito populoso,
pouco povoado, campeão mundial de desigualdades sociais e daí apresenta
superpovoamento em várias regiões.
Países
|
TN (‰)
|
TM (‰)
|
Mortalidade infantil (‰)
|
Crescimento
vegetativo (%)
|
Expectativa de
vida (em anos)
|
Argentina
|
20,0
|
9,0
|
36,0
|
1,1
|
71,0
|
China
|
19,7
|
6,7
|
33,0
|
l,3
|
70,2
|
Estados Unidos
|
15,0
|
8,0
|
10,0
|
0,7
|
76,0
|
Holanda
|
11,0
|
8,0
|
8,0
|
0,3
|
77,0
|
Indonésia
|
32,2
|
11,7
|
58,0
|
2,0
|
57,2
|
México
|
31,2
|
5,0
|
53,0
|
2,6
|
69,8
|
Nigéria
|
46,5
|
14,0
|
l2l,0
|
3,2
|
52,5
|
Taxas demográficas - Banco Mundial - 1995
|
A
taxa de natalidade
representa o quociente do no de nascimentos vivos por ano (x 1.000)
pela população absoluta (TN= nv x 1.000¸ pa). Essa taxa revela o
desenvolvimento do país: nos países centrais é de 5‰, nos países periféricos
é de 31‰. Deve-se isto ao fato de que nos países subdesenvolvidos há mais
população jovem, com maior taxa de fertilidade humana e consequentemente com
maior número de nascimentos vivos.
A taxa de fecundidade
humana é a
média de filhos por mulher em idade fértil, dos l5 aos cerca de 45 anos - nos países desenvolvidos
é de l,5; nos pobres é de 6-7. Quando chega a 2 ocorre uma estabilização
populacional. Quando diminui a fecundidade, também decresce a mortalidade
infantil.
A taxa de mortalidade se relaciona aos óbitos ocorridos em
um ano e pode ser matematicamente assim: óbito/ano x 1.000/ pa (população
absoluta). Quanto menor a taxa de mortalidade, maior a expectativa de vida. As
taxas de mortalidade infantil são muito elevadas nos países pobres, já que
são demonstrativas das suas condições deficientes de alimentação, de
atendimento médico-hospitalar, de saneamento básico. A TM é a primeira a mudar, depois a TN.
Natimortos não são computados estatisticamente,
escondendo, pois, as condições de alimentação e de assistência médica às
gestantes durante a gravidez e o parto. A mortalidade infantil pode ser precoce
ou neonatal (até 28 dias de vida, devido a condições higiênicas de parto,
deficiências congênitas, de saneamentos básicos e médico-hospitalares) e
pós-neonatal (de 1 a
12 meses, em face da pobreza e condições de subnutrição e de doenças
infectocontagiosas a que estiverem sujeitos os bebês). A mortalidade infantil
no mundo caiu de l950 a 1985 - na Europa de 62‰ para 13‰, na América do Sul de
126‰ para 58‰, na Ásia de 181‰ para 73‰, na África de 187‰ para 106‰ (exceto na
África subsariana).
A
mortalidade, no
cômputo geral da população, nos países ricos deve-se mais a doenças senis ou de
velhice (maior esperança de vida), enquanto nos países pobres está ligada às
deficientes condições de alimentação, de saneamento básico e de atendimento
médico-hospitalar.
O
crescimento vegetativo (CV) ou natural
representa a diferença entre as taxas de natalidade e a de mortalidade. O
crescimento vegetativo pode ser: a) positivo, quando superior a 0 (CV= TN - TM=>0) e
b)
negativo ou de reposição
(quando £ 0, típico dos países altamente
industrializados europeus com população envelhecida). Os países periféricos
mais pobres, também denominados PMD (países menos desenvolvidos) da África
subsaariana, do Extremo Oriente e Sudeste da Ásia, são os que apresentam as
maiores taxas de crescimento vegetativo, assinaladas em % (entre 3 e
4%).
O crescimento demográfico ou total é o resultado do crescimento
vegetativo, acrescido do contingente imigratório e subtraído do emigratório (cd=
cv + imigração e - emigração).
No
início do século XX, a população mundial ultrapassou 1,6 milhão e em 1964
duplicou. Assim, foram necessários 64 anos para que ela duplicasse. Durante os
dois primeiros terços do século XX, a população da América aumentou 4,2 vezes.
A população da África quase quatriplicou e a de Ásia aumentou 2,5 vezes,
enquanto que a população da ex-URSS duplicou e a da Europa aumentou pouco mais
de 1,5 vez.
Para
avaliar as condições de saúde (através da mortalidade infantil e da expectativa
de vida), de escolaridade (pelo nível de alfabetização e de acesso ao ensino
médio e superior) e de renda (mais o poder de compra dos salários do que a
renda per capita) a ONU, por intermédio do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) formulou o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). No
ano de 1999, estabeleceu-se novo critério de avaliação, considerando menos a
renda individual aplicada em educação e saúde e mais quanto o Estado investe
nestes setores. Em face disso, o Brasil que estava em 68o lugar, em
1998, passou para 79o, enquanto Cuba que estava em 85o mudou
para o 58o.
Os
indicadores sociais de saúde, educação e renda, divulgados pela ONU anualmente,
revelam as disparidades sociais e econômicas entre os países ricos e pobres: de
um lado, os países da América Anglo-Saxônica (Canadá e Estados Unidos em 1o
e 3o lugares), da Europa Ocidental e Austrália - com um alto grau de
desenvolvimento humano; e, de outro lado, países da África Subsaariana (ao sul
do deserto do Saara, com exceção da África do Sul) com os mais baixos graus de
desenvolvimento humano.
3.1.2. - Transição demográfica
A
transição demográfica é uma teoria surgida na mesma ocasião da Quebra da Bolsa
de Nova Iorque, em 1929, para explicar a tendência da população mundial a se
equilibrar, na medida em que diminuem as taxas de natalidade e de mortalidade.
Toda
e qualquer transição significa uma mudança ou passagem de um período para
outro. Deste modo, a transição demográfica representa a passagem de um
período primitivo ou pré-industrial (em que as taxas de natalidade (TN) e mortalidade (TM) são elevadas, embora o crescimento vegetativo seja baixo) para
um período atual ou evoluído (com baixas TN,
TM e CV, sendo este último inferior a 1%). Esta passagem ou transição
demográfica se efetua em duas fases: a primeira, em que a TN permanece alta,
mas a TM começa a diminuir (daí o CV
ser muito alto); a segunda, em que a TN também
começa a diminuir.
Os países desenvolvidos
todos já completaram todos os ciclos de transição demográfica, ocorrendo a
estabilização de sua população no período atual, como, por exemplo, os
países europeus (desde l920) e os da América Anglo-Saxônica (na década de 40) e
Japão (imediatamente após a II Guerra Mundial). A quase generalidade dos
países subdesenvolvidos está na segunda fase de transição demográfica (em
que o CV está diminuindo); os PMD -
países menos desenvolvidos ou "bolsões de pobreza (do Sahel, SE e L da
Ásia e l da A. Latina e Oceania),porém, estão na primeira fase.
A
estabilização da população animal acontece de forma distinta em relação à
humana: na primeira interferem condicionamentos de ordem natural, enquanto na
segunda são culturais e econômicos.
Num ecossistema, o equilíbrio de crescimento de uma população animal ocorre
quando há dificuldades no meio ambiente, como falta de alimentos, a competição
entre as espécies por um território e a existência de predadores, acarretando
um aumento da mortalidade.
Num
meio social, os controles de crescimento são histórico-culturais (ex: Revolução
Neolítica ou Agrícola a ± 9.000 a.c e a Revolução
Industrial na Europa, no século XVIII), sócio-econômicos (quanto maior o padrão
de vida, isto é, a escolaridade, a renda, a condição médico-sanitária menor é o
crescimento vegetativo) e tecnológicos (vacinação em massa acabou com o
equilíbrio natural do período primitivo, pois diminui a taxa de mortalidade).
A)
Síntese da transição demográfica dos países europeus
a) Período primitivo - na Europa permaneceu até o século
XVIII, com uma TM em torno de 35‰.
Em fins do século XVIII, o reverendo
protestante Thomas
Robert Malthus,
propôs a teoria catastrofista, segundo a qual a produção de alimentos aumenta
em progressão aritmética (2,4,6,8,l0...), enquanto a população cresce em
progressão geométrica (2,4,8,l6,32,64,l28,...),dobrando a cada 25 anos. Com a
população crescendo nesse ritmo e escasseando as terras, seria inevitável a
fome.
Malthus afirmava que o controle da população no período
primitivo dava-se através de agentes naturais (ex.: epidemias, miséria, fome),
da abstinência sexual, do casamento tardio e do próprio mercado e não pelo
Estado. Ele fazia parte da Escola Liberal, contra a intervenção do Estado
(que instituiu naquela época a Lei dos Pobres, garantindo uma ajuda para os
mesmos, retrucando ele que isto faria com que não se lutasse contra a sua
situação, acomodando-se a ela devido ao auxílio governamental).
No
século XIX
ocorreram as duas fases de transição demográfica e a primeira aceleração
demográfica do mundo contemporânea, particularmente na Europa.
b) Primeira fase de transição
demográfica - Na
primeira fase de transição na Europa Ocidental, diminuiu a TM em face da criação de tubulações de redes de esgotos nas
cidades européias: em 1810 (na Inglaterra), em l850 (Paris) introduziu-se
a descarga de água nos sanitários e seu
escoamento para as redes de drenagem (antes só eram usadas para as águas
pluviais), mas aumentando o mau cheiro
nos rios. Mesmo assim, na década 1861/70, deu-se uma epidemia de cólera na
Inglaterra. As redes de água e esgotos introduzidas até a primeira metade do
século, aumentaram a expectativa de vida da população.
Na 1a metade do
século XIX, na Inglaterra, ainda havia uma grande concentração de renda
(Foville dizia em 1833 que ela rica "no mundo, rica em ricos"). Os
movimentos sindicalistas (não mais o cartismo, que era mais político que
corporativo, mas sim o trade-unionismo) conseguiram, ao longo do século,
melhorias salariais mais para a elite de trabalhadores e não tanto para a
maioria deles.
As
manifestações sindicais (greves, piquetes, lutas contra patrões) eram
reprimidas violentamente, como aconteceu no dia 1 de maio de l888, em Chicago e
nos vários países europeus. Delas resultaram, entretanto, melhores condições
de trabalho (seguridade social, férias, salário mínimo, repouso semanal), além
de educação e saúde públicas. Assim, no final do século XIX, os salários
eram comprometidos em cerca de 50% para comprar alimentos e o restante para
aluguel, vestuário e outras necessidades.
A TM decresceu em 5 percentuais de 1850
até a década de 1891/90 (de 31 para 26‰) em face da melhoria das condições de
saneamento básico na Europa. Na Inglaterra, a TM baixou de 22,4 para 19,1‰, enquanto a TN baixou de 32,6‰ para 32,4‰. Como a TN ainda estava elevada, houve um crescimento vegetativo grande,
favorável à burguesia (diminuindo o valor dos salários) e contribuindo para a
grande emigração européia do século XIX (cerca de 50 milhões foram para a
América, Austrália e Nova Zelândia).
c) Segunda fase da transição
demográfica na Europa Ocidental.
Em
face da II fase da Revolução Industrial, a urbanização cresceu 66% no noroeste
europeu (de 26,1 para 43,4% a população urbana) e a escolarização de crianças
subiu na Inglaterra de 8 para 59%. Na segunda fase de transição
demográfica (final do século XIX até a década de 20 do século XX) diminuiu a
TN, em face de reformas sociais e
econômicas, dos custos de educação das crianças e da urbanização decorrente da
industrialização, enfim, do melhor padrão de vida das populações. As
diferenças entre a TN e TM eram
desprezíveis no final do século XIX (20-25‰), depois passaram para 15-20‰ no
início do século XX e para 12 - 15‰ entre as duas guerras mundiais (1918 a 1939).
As
idéias catastrofistas de Malthus não se concretizaram na Europa Ocidental. Já no final do século
XVIII, Jenner divulgava estudos sobre os efeitos da vacina antivariólica
(inoculação em vacas, daí o nome vacina), diminuindo a TM. Por outro lado, a TN
diminuiu (e por consequência o CV
também) em vista da melhoria da qualidade de vida do europeu: no final do
século XIX os ingleses consumiam mais batatas, açúcar e carne, pois a divisão
local de trabalho se dinamizou com a mecanização do campo (junto com a
Revolução Industrial aconteceu a Revolução Agrícola, para compensar o êxodo
rural e as emigrações européias - especialmente para a América) e a
escolaridade das crianças aumentou. Além disso, os historiadores
demonstraram que, após a Revolução Liberal de l848, a classe operária
conscientizou-se de sua própria força e começou a lutar por seus direitos -
nesta época surgem os movimentos socialistas, cartistas (na Inglaterra) e
trade-unionistas canalisando esforços neste sentido.
Ainda no século XIX, Marx dizia que o excesso de população era
uma necessidade histórica do capitalismo, pois aumenta a competição da
mão-de-obra, diminuindo o valor da força de trabalho e aumentando os lucros dos
empresários. Ao
contrário de Malthus, Marx afirmava que o Estado deveria
distribuir melhor a riqueza para atenuar a miséria e a fome da população. O
interessante a observar é que os países social-democratas europeus foram os
criadores do "welfare state", ou o Estado do bem-estar social ao
longo do século XX, que vigorou até a implantação do neoliberalismo a partir da
década de 70.
B) Transição demográfica nos países
periféricos
É
incompleta, visto que ainda não chegou ao período atual ou evoluído. O
período primitivo vigorou até a década de 40 (II Guerra Mundial), com elevadas
taxas de natalidade- 45‰ e de mortalidade-32‰).
A
primeira fase de transição ocorreu no pós-guerra, de 1940 a 1960, com a
diminuição da TM, em virtude da ação da OMS (Organização Mundial de Saúde),
da Cruz Vermelha Internacional, das transnacionais representadas por
laboratórios farmacêuticos: enfim, da Revolução Médico-sanitária. Esta se
manifestou pelo surgimento de novas vacinas, criação de novos medicamentos como
a penicilina, divulgação da higiene social, das campanhas de vacinação em
massa, do aumento de ambulatórios e maternidades para tratamento pré e
pós-natal, diminuindo muito a mortalidade infantil.
A Revolução
Médico-Sanitária
acarretou uma diminuição considerável da taxa de mortalidade (cerca de 19.7‰
para 9.4‰ no Brasil, da década de 40 à de 60) e, por conseqüência, do
crescimento vegetativo (chegando a quase 3% no Brasil). A esta segunda
aceleração demográfica ocorrida nos países subdesenvolvidos nesta primeira
fase, denominou-se explosão demográfica.
*A segunda fase de
transição começou após a década de 60, quando a taxa de natalidade
começou a declinar também, devido à invenção da pílula anticoncepcional, além
da urbanização (famílias das cidades têm menos filhos que as rurais) e do
feminismo. Assim o crescimento vegetativo passou de 3,0% na década de 70,
para 1,7% nesta década de 90, com exclusão dos "bolsões de pobreza",
onde, ainda, está muito alto, pois estão na 1a fase de transição
demográfica.
O que distingue, pois, o
crescimento populacional entre regiões ricas e pobres é a taxa de natalidade e
a taxa de fecundidade humana, além de tradições familiares, o casamento precoce
e a religião (ex.; no Oriente). As taxas de natalidade e de fecundidade
humana estão ligadas, numa razão inversa, ao padrão de vida da população (alto
padrão de vida = baixas TN e fecundidade humana).
Além da distribuição de renda
e as condições médico-sanitárias, o padrão de vida é aferido pelo analfabetismo
e situações de evasão escolar e depreciação da rede pública de ensino. Tais
situações diminuem a eficiência da mão-de-obra, do planejamento familiar e o
aperfeiçoamento do grau de desenvolvimento cientifico e tecnológico. A
recuperação da rede escolar leva cerca de duas gerações - tristemente ocorreu o
inverso no Brasil desde 1968, após a ditadura militar.
3.1.3.
- Crescimento da População e da produção alimentar. Paradoxos e soluções.
A) Introdução
É
maior a produção agrícola nos países centrais que nos periféricos, embora
nestes tenha aumentado após a II Guerra Mundial, exclusive nos "bolsões de
pobreza". Em sua totalidade, a produção alimentar daria para alimentar 9
bilhões de pessoas, pouco mais de 50% da população absoluta da Terra.
Segundo
o Banco Mundial, a disponibilidade média planetária de alimentos pode
aumentar cerca de 3,0 % ao ano até o ano 2.000, enquanto, por outro lado, a
evolução demográfica do crescimento vegetativo pode chegar a 1% na maioria dos
países, exceto naqueles países mais pobres. Nestes o CV é muito grande (3,0%)
enquanto a produção de alimentos é pequena.
Nos países mais pobres é onde ocorre mais a fome crônica
ou epidêmica, decorrente da ausência de nutrientes na alimentação cotidiana,
repercutindo em elevadas taxas de mortalidade infantil.
É
paradoxal observar que, por um lado, os países centrais completaram sua
transição demográfica e aumentaram a produção em face da Revolução Industrial e
Agrícola e, assim, apresentam uma produção maior que o crescimento demográfico;
por outro lado, os países subdesenvolvidos não completaram sua transição
demográfica e ainda não solucionaram seus problemas sociais de maior e
eqüitativa distribuição de renda, bem como de produção de alimentos para
atender as necessidades de suas populações.
Uma
evidência disso se mostra na Índia: desde sua independência em 15 de agosto de
1947 sua população passou de 345 milhões para 1 bilhão, em 15/8/1999; mesmo
dobrando sua produção de arroz e triplicando a de trigo, sua situação
demográfica é lamentável.
O PNUD (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento)
criou um "relógio de pobreza" para demonstrar o crescimento do
problema da pobreza: 1,3 bilhões de pessoas vivem com menos de US$ 1 por dia,
sendo que este número acresce de 23 milhões por ano. Mesmo países que passaram
por taxas de crescimento econômico, graças à implementação de políticas
neoliberais, como o Chile, tem 1,3 milhões de população jovem pobre, que não
pode superar o problema, pois os 20% mais pobres só representam 3,9% da renda
nacional.
B) A fome não é um problema de
escassez, mas resultante da injusta divisão internacional de trabalho.
Se
há um drama pungente da atualidade é o da fome, que se reveste de um
caráter endêmico ou epidêmico. Recorremos ao dicionário Aurélio, para definir
os termos - "endemia: doença que
existe constantemente em determinado lugar e ataca número maior ou menor de
indivíduos." e “epidemia: “surto
de agravação de uma endemia.”“.
Podemos,
então, identificar a fome endêmica como estrutural, no sentido de que grande
parte da população dos países subdesenvolvidos é subnutrida, afetando sua
expectativa de vida e testemunhando elevadas taxas de mortalidade infantil. Já
a fome epidêmica é mais conjuntural, quando ocorrem fatos naturais (secas,
enchentes, tufões, abalos sísmicos, erupções vulcânicas), políticos (guerras,
perseguições, conflitos tribais) e econômicos (crises de recessão como nas
depressões da economia capitalista). Nestes casos conjunturais pode haver o que
se denomina de famine (fome aguda, de duração relativamente curta).
As razões estruturais que
justificam a fome endêmica nos países pobres são: o crescimento vegetativo alto; a
baixa cotação do “commodities" (produtos primários)
no mercado internacional ora pela capacidade de manipulação das
transnacionais, ora por seus próprios preços serem baixos; dependência das
importações em face da introdução da plantation pelo colonialismo nos países
periféricos, inserindo-os no mercado globalizante da atualidade (produção
destinada mais ao mercado externo que ao interno); a racionalidade
especulativa do lucro e do mercado na economia capitalista (quando uma
colheita é farta e há um estoque muito grande de um produto agrícola ou sua
cotação no mercado for alta, é preferível não produzi-lo mais, ou jogar fora
parte da colheita, ou destiná-la a outro objetivo fora do mercado para que seus
preços não caiam).
Já
estudamos que com a globalização e com o aumento de circulação do capital
volátil após a década de 70, o jogo e a especulação nas bolsas têm maior realce
que a aplicação de investimentos sociais em educação, saúde e melhoria da
produção agropastoril no mundo. Segundo Milton Santos, a globalização
provoca a "primazia do econômico sobre o político, do instrumental sobre a
finalidade e do dinheiro sobre o homem". Mesmo o capital produtivo
tende a ser aplicado mais nos países desenvolvidos, em face da possibilidade de
retorno mais imediato, visto que possuem um mercado mais forte e, assim, mais
atrativo.
A
ONU, através da FAO (Food and Agricultural Organization), elaborou projetos agrícolas muito
custosos para os países do Sahel (sul do deserto do Saara) nas bacias dos rios
Gâmbia, Níger, Senegal; nem por isto, no entanto, aumentou a produção alimentar
para suas populações e, pelo contrário, cresceu sua dependência econômica tanto
pela importação de produtos agrícolas, como pelos juros de dívidas contraídas
junto ao Banco Mundial, e, ainda, pela redução do valor das exportações
agrícolas.
Outros fatos lamentáveis a
registrar. A ajuda humanitária enviada pelos países centrais em situações de
emergências, muitas vezes se degenera em seus objetivos por políticos corruptos
dos países subdesenvolvidos. Estes, por outro lado, são dominados por uma elite
econômica que se assenhoreia do poder e elabora leis mais favoráveis a si
mesmas, do que à maioria da população, constituindo um verdadeiro mandarinato,
cercado de privilégios e distribuindo-os, também, aos tecnoburocratas e
magistrados que os cerca.
C) Soluções propostas aos dilemas da
pobreza e fome dos países subdesenvolvidos.
À
procura de soluções aos problemas relacionados à fome e pobreza dos países
periféricos defronta-se duas concepções: a neomaltusiana e a reformista.
Os países centrais e as classes
dominantes dos países subdesenvolvidos
são os adeptos da Escola neomaltusiana ou pessimista. Eles
partem da tese de que crescimento populacional é sinônimo de pobreza;
quanto maior esta, mais será desviados os investimentos do Estado para fins
não-produtivos (ex.; escolas, hospitais). Sendo assim, cabe ao Estado o
papel de controlar o crescimento populacional através de métodos contraceptivos
(como já foi feito na China-década de 60, na Índia - década de 70, e em
Cingapura). Organizações não-governamentais têm adotado medidas
neomaltusianas no NE do Brasil, desde a década de 6O, mas esta região
continua com os mais baixos indicadores sociais do país. Portanto, esta escola
procura resolver os problemas demográficos, atacando os seus efeitos (alto
crescimento vegetativo) e não a sua causa principal (a situação de pobreza) das
populações.
Ademais,
sabemos que há uma verdadeira sangria de evasão de capitais dos países pobres,
para o pagamento de juros de dívidas externas e para a remessa de lucros das
transnacionais, além de uma enorme concentração de renda nos 20% mais ricos
desses países. Na década de 90, se assiste a vilania do Estado desviar recursos
para o pagamento desses juros e para estimular o capital especulativo para
equilibrar suas dívidas, em vez de diminuir seus déficits interno e externo e
aplicar investimentos na produção.
Uma nova corrente desta
escola é a dos ecomaltusianos, que prognosticam a
destruição dos ecossistemas das áreas de baixas latitudes, em virtude da maior
demanda de terras e seus produtos com o crescimento vertiginoso da população,
como na África subsaariana. Pregam, pois, a necessidade do controle da
natalidade, como um meio eficaz de preservar o meio ambiente. Suas idéias,
entretanto, não merecem crédito absoluto, visto que sabemos que as sociedades
industriais dos países desenvolvidos destroem mais o meio ambiente, embora
representem apenas 1/5 da população mundial.
A
escola reformista ou otimista baseia-se
nas evidências históricas, ocorridas especialmente da Europa Ocidental no
século passado, Os otimistas argumentam que reformas sociais e econômicas
liberam forças produtivas (como o trabalho qualificado), melhoram a
distribuição de alimentos e, sobretudo, o padrão de vida (maior
escolaridade, adequadas condições médico-sanitárias e distribuição de renda).
Quanto maior o padrão de vida, menor é o número de integrantes dos conjuntos
familiares - isto é válido tanto para as classes sociais, como para os países.
Conclusão: maior padrão de vida resulta em um planejamento familiar e,
conseqüentemente, em menores taxas de natalidade e de crescimento natural ou
vegetativo.
População Mundial (%)-1993
|
|
Economias
|
% Mundial
|
PNB
- %
|
Baixa renda
|
56.2
|
79
|
Média Renda
|
29
|
16.8
|
Alta renda
|
14.8
|
4.2
|
Há
um fato relevante já estudado anteriormente. A globalização, novo nome do
imperialismo, através dos seus agentes (transnacionais, bancos
internacionais e fundos de pensão e de investimentos), provocou nas últimas
décadas uma acumulação ainda maior de capital nos países centrais. Veja a
tabela ao lado.
Para
diminuir a pobreza e a desigualdade sociais há três políticas: a de
preços, as estruturais e as compensatórias. As políticas de preços
relacionam-se aos salários. As políticas estruturais visam a repartir a renda
nacional através do acesso à terra (pela reforma agrária) e a recursos financeiros
e educacionais (crédito a pequenos produtores, melhores escolas). É uma
política de longo prazo e de efeitos permanentes, como aconteceu no Japão e
está ocorrendo na Coréia do Sul. As políticas compensatórias sanam apenas as
distorções provocadas pelas desigualdades sociais, isto é, atacam as
conseqüências, mas não as causas do problema (cesta básica de alimentos,
seguro-desemprego, abono salarial, renda mínima). Esta é uma política de curto
prazo, acarreta uma transferência de patrimônio mas estigmatiza os pobres.
3.2.
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL
3.2.1.
- Introdução
Tradicionalmente, costuma-se
dizer que as áreas são ecumênicas quando apresentam condições naturais
favoráveis à ocupação humana (como os climas temperados oceânicos, as planícies
aluvionais, os solos férteis) e áreas anecumênicas, as que dificultam a
ocupação humana (exs: desertos, pólos). Os limites geográficos do ecúmeno são
de 78o de latitude norte do Equador (na Zona Polar Ártica, ficando,
pois os outros l2o sem população) a 55o de latitude S do
Equador (extremo meridional da América).
Entretanto, a distribuição
desigual da população terrestre deve-se menos aos fatores naturais e mais aos
históricos e econômicos, na medida em que, se valorizando uma determinada área
que atrai mais população, ela se torna mais populosa que outra. Além disso, a
modernização acarretada pela Revolução tecnocientífica está superando as
adversidades físicas do planeta, está criando novas formas de transportes que
facilitam a conquista de novos espaços.
Além
disto, esta desigualdade da população relativa do planeta está relacionada,
também, ao processo de crescimento diferencial da população na Terra (exemplo:
a Europa duplicou sua população de 1860 a 1960, enquanto a América do Sul duplicou
nos últimos 30 anos).
Mesmo
tecendo estas considerações, vamos levar em conta os fatores naturais, histórico-culturais e econômicos que condicionam a
irregularidade da distribuição da população na Terra.
3.2.2.
- Condicionamentos naturais, históricos e econômicos à distribuição da
população mundial.
A) Condições naturais: relevo,
hidrografia, clima, vegetação e solos.
a) Relevo - as planícies contém cerca de 55% da população mundial,
especialmente as aluvionais formadas pelo transporte e sedimentação no curso
inferior dos rios (como as do delta do Ganges com ± 3000 hab/km2 e
vale do Mekong, na
Ásia Monçônica). Já os planaltos apresentam cerca de 48% do contingente
demográfico mundial.
Na
América Andina,
excepcionalmente, os planaltos são mais
povoados que as planícies costeiras (geralmente estreitas e comprimidas
entre os Andes e o mar) e o lado oriental
(dominado pelo clima equatorial e a Floresta Amazônica, cuja temperatura,
umidade e heterogeneidade acentuadas dificultam ação humana).
b) Hidrografia - os rios representaram um fator de
sedentariedade dos povos primitivos, criando as civilizações de regadio no
Egito (o Nilo
transporta sedimentos vulcânicos do Maciço da Etiópia e outros aluviões para o
seu médio e baixo curso, no deserto do Saara, tornando suas margens
agricultáveis, desde os tempos dos faraós), na Mesopotâmia (no atual Iraque,
onde há também muita exploração de petróleo), no Indo e Ganges. Os solos
aluvionais e o clima monçônico favorecem a rizicultura submersa no sul e
sudeste da Ásia, que é um "formigueiro humano", tal a quantidade de
sua população.
Ainda
hoje, prestam um serviço inestimável na irrigação
(especialmente em regiões dominadas pelos climas tipos - áridos e semiáridos).
Este é um dos entraves às negociações de paz entre Israel e os países
árabes vizinhos, pois controla as nascentes dos rios, que irrigam os cultivos
praticados naquela área. Outro exemplo é o do rio S. Francisco, que poderia
acabar com a "indústria da seca" no Sertão semiárido do nordeste do
Brasil.
Os
rios, especialmente os de planície
(os de planaltos, através de eclusas), podem servir como um meio de transporte
hidroviário, que é o mais barato, pois carrega mais mercadorias e consome
menos energia (seus custos são praticamente o de carga e descarga dos
produtos). Na Europa (os rios Reno, Volga-Don, Ródano, Elba); no nordeste dos
Estados e sudeste do Canadá, o S. Lourenço; na América do Sul, o Amazonas, o
Paraná e o Paraguai. Na foz desses rios há portos de grande movimentação de
cargas (o melhor exemplo é o de Rotterdam, no Reno).
Desde
tempos imemoriais, os rios abastecem de água as cidades às suas margens. Em face da poluição por dejetos
industriais e urbanos, especialmente nas grandes metrópoles, esse abastecimento
d’água está diminuindo.
Os
rios de planalto fornecem energia hidrelétrica, devido aos desníveis do seu leito e
à forte correnteza. Geralmente as usinas siderúrgicas situam-se às margens dos
rios, pois suas águas podem resfriar as partes da guseria, por onde sae o
material fundido dos alto-fornos. As populações ribeirinhas dos países
subdesenvolvidos retiram dos rios parte do seu sustento, através da pesca.
Por
todas essas influências dos rios na organização do espaço, eles representam um
elemento de atração de população.
c) Clima
- mesmo com os
avanços tecnológicos da atualidade os climas polares (tipo E com médias
térmicas baixíssimas de no mínimo - 25oC no interior e 0oC
no litoral, durante o inverno; a Antártida registrou a temperatura negativa
recorde da Terra: -88,3oC), os desérticos (com suas
amplitudes térmicas diárias muito grandes, solos estéreis e estiagens
prolongadas) e os equatoriais (com suas chuvas abundantes e bem
distribuídas durante o ano) apresentam enormes dificuldades à ocupação
humana. Assim, exemplificando, a Antártida é desabitada; o Saara é
pouco maior que o Brasil, mas com apenas 10 milhões de habitantes (concentrados
nos oásis).
Alguns
autores chamam aos climas polares, equatoriais e desérticos de "repulsivos". As Zonas Térmicas que
apresentam a maior porcentagem da população mundial são as Temperada do Norte (em
face de ser a área mais industrializada e urbanizada da Terra) e a
Intertropical.
d) Vegetação -
as florestas equatoriais devido ao fato de serem muito biodiversificadas e
densas, constituindo
um emaranhado de árvores, cipós e epífitas, desfavorecem a ocupação humana. Uma
demonstração dessa influência: na Amazônia a população é ribeirinha para
facilitar o acesso com outras comunidades; a Região norte do Brasil significa
45,44% da superfície do país, mas apenas 7% da sua população absoluta.
As florestas de médias latitudes, por serem mais homogêneas, favorecem
a vida do homem e são as mais devastadas da Terra, embora a industrialização e
urbanização tenham contribuído enormemente para tal. Nas estepes semiáridas da
África e Ásia se praticava o pastoreio nômade, que exige muita terra e pouca
população.
e) Solos - os naturalmente férteis, como a terra-roxa do SE
do Brasil (produto da decomposição da rocha magmática extrusiva ou vulcânica
chamada de basalto), o massapê na Zona da Mata do nordeste do Brasil ou os
solos de campos temperados (em especial as pradarias norte-americanas),
atraíram colonizadores europeus. Entretanto, mesmo não sendo fértil o solo, o
Estado pode elaborar políticas de ocupação e daí a necessidade de aplicação de
investimentos, a fim de melhorar sua qualidade. O solo de cerrados do Brasil,
como todo solo tropical é laterítico e, portanto ácido, mas foi corrigida a sua
acidez pela técnica da calagem, com incentivos do governo, tornando o
Centro-Oeste uma área grande produtora de grãos e mais povoada que há 30 anos.
Israel transformou suas terras áridas em solo agricultável em face da
necessidade da presença muito grande de imigrantes, especialmente provenientes
da antiga União Soviética.
f) A proximidade do mar também influi na distribuição da
população ora por causa do processo de colonização, ora pela facilidade de
comércio, ora pela presença de planícies costeiras.
B) Condicionamentos
histórico-culturais:
O processo de
integração territorial de um país leva geralmente o Estado a patrocinar ou
estimular a ocupação de áreas mesmo naturalmente inóspitas, como aconteceu com o Império Russo
com a ocupação da Sibéria extremamente fria já antes do século XIX. O governo
brasileiro, durante a ditadura militar, estimulou a conquista do Centro-Oeste e
da Amazônia com incentivos fiscais e creditícios a projetos agropastoris e
construindo rodovias. Nos Estados Unidos, no século XIX, houve a corrida para o
"far-west" através da iniciativa dos pioneiros e do próprio governo
com a "Homestead Act", lei pela qual se doavam terras das pradarias
para quem as cultivasse por um determinado período, atraindo muitos imigrantes
europeus.
A
Europa Ocidental
apresenta uma densidade demográfica elevada devido à Revolução Industrial e ao
seu processo antigo de povoamento. A área litorânea do Brasil concentra 82% da
sua população absoluta em face do processo de colonização do litoral para o
interior, já que o nosso país foi uma colônia de exploração e sua produção era
voltada totalmente para o mercado externo. A costa L dos EUA (especialmente o
NE), a Ásia Monçônica e o centro-oeste da Europa foram as primeiras a serem
povoadas, daí possuírem muita população relativa.
C) Condicionamentos econômicos:
As
atividades econômicas exercem papel importante na organização do espaço
geográfico. No entanto, o trabalho humano se diversifica conforme o tipo de
atividade econômica e assim vai precisar de mais ou menos força de trabalho
para organizar o espaço, de acordo com sua evolução técnica. Deste modo, a
agricultura mecanizada exige pouca mão-de-obra, promovendo uma baixa população
relativa onde é praticada. Por outro lado, a Ásia Monçônica, porém, apresenta
50% da população mundial em face, sobretudo, de sua agricultura intensiva de
subsistência, a rizicultura submersa, que exige numerosa mão-de-obra, ocupando
não só as planícies aluvionais como até as encostas montanhosas, através da
construção de terraços.
Podemos
colocar a seguinte seqüência decrescente na distribuição da população: áreas
industriais (mais povoadas) ® agrícolas ® de criação de gado ® de extrativismo ® de pastoreio nômade (menos povoadas).
Os fatores físicos (A),
histórico-culturais (B) e econômicos (C) combinam-se através dos tempos,
condicionando a evolução econômica e a formação do espaço geográfico. As áreas mais povoadas da Terra
são o NE dos EUA, o W da Europa e a Ásia Monçônica.
3.3. - MOBILIDADE GEOGRÁFICA: conjugação entre atração e repulsão
demográficas.
3.3.l. - Dinâmica das migrações
humanas
Estruturalmente,
os países industrializados, via de regra, oferecem melhores condições de vida
que os subdesenvolvidos, o que justifica o fato de estes serem áreas de
repulsão, enquanto aqueles são de atração demográfica. Manifestações dessa
dinâmica são os "braceros" mexicanos e outros latino-americanos imigrarem
para os EUA, ainda que ilegalmente; ou os marroquinos, argelinos e tunisianos
terem imigrado para a França. Aqui no Brasil, deram-se muitas migrações de
nordestinos para o Sudeste, pois é a região mais desenvolvida do país.
Conjunturalmente (ou circunstancialmente) quando
acontece uma crise de um sistema; como quando os países (mesmo os
desenvolvidos) passam por dificuldades econômicas (cíclicas no capitalismo)
impõem severas restrições à imigração, para não concorrer com a mão-de-obra
nativa. Acontece isto nos EUA (Immigration Act de Bush, em l990 e a
obrigatoriedade do "green card" para os estrangeiros residentes a
partir de 1/abril/1997) e nos países europeus, após as crises da década de 70
em diante, escasseando a oferta de empregos em face da Revolução Científica e
Tecnológica e da política neoliberal.
Os acidentes da natureza,
como enchentes, terremotos, erupções vulcânicas, secas, provocam saída de
população, especialmente quando a área é pobre e, portanto superpovoada.
Nessa dinâmica de movimentação
de populações conjugam-se fatores estruturais e conjunturais, notadamente os
de ordem econômica, mas influindo, também, os de natureza política e
militar, como conflitos internos (ex: os que acontecem na África e
os ocorridos na ex-Iugoslávia), problemas de fronteiras, formação de
novas nações (a ex-Iugoslávia deu origem à Croácia, Sérvia, Montenegro,
Bósnia-Herzegovina, Eslovênia), transformações políticas e econômicas
(ex: Europa Oriental e ex-URSS depois da glasnost e Perestroika, estão em transição
do socialismo para o capitalismo, daí as emigrações para a Europa Ocidental,
especialmente de mão-de-obra qualificada, a que se chama "fuga de
cérebros").
Há
uma relação muito grande entre a mobilidade geográfica das populações, o
crescimento demográfico e econômico: quem migra é, de modo geral,
mão-de-obra já formada, que trabalha e ganha uma renda e assim forma um mercado
de consumo. Em face disso, os EUA já era o maior mercado consumidor no fim do
século passado. Além disso, verifica-se a dispersão (saída) de população
de regiões estagnadas economicamente e sua concentração (entrada) em
áreas prósperas ao longo do tempo na superfície terrestre.
3.3.2. - Modalidades de movimentos
migratórios
As migrações podem ser
estudadas sob dois enfoques: quanto ao tempo de duração (podem
ser definitivas e temporárias) e ao espaço de deslocamento (externas ou
internacionais e as internas, estas podendo ser intra-regionais - quando
realizadas dentro das regiões do país, ou inter-regionais - quando feitas de
uma região para a outra, no interior do mesmo país).
Há,
também, migrações forçadas (como durante as guerras e perseguições
políticas), espontâneas (por lazer ou fins religiosos) e controladas
(pelo Estado, ora restringindo, ora facilitando os deslocamentos migratórios).
Segundo a ACNUR (Comissão das Nações Unidas para os Refugiados) e a Cruz
Vermelha Internacional há cerca de 60 milhões de refugiados de guerras,
especialmente na África assolada por conflitos tribais.
A) Migrações quanto ao tempo de
duração
a)
Migrações definitivas
- quando o migrante se estabelece de forma permanente na área para onde se
deslocou e daí não sai mais. Os
nordestinos do Brasil foram os "candangos" construtores de Brasília e
formam grande parte da população periférica da Grande S.Paulo e do Grande Rio
(na Baixada Fluminense). A Alemanha de pós-guerra atraiu os
"gastarbeiter" ou trabalhadores turcos e gregos.
b)
Migrações temporárias -
podem ser diárias (como a dos empregados para suas empresas e
vice-versa, geralmente em dias úteis da semana); sazonais (dependem das
estações do ano, como nas épocas de colheitas, como as de
"bóias-frias" no Brasil) e por tempo indeterminado.
TURISMO
INTERNACIONAL (1996)- Fonte:Thea Sinclair, Tourism and Economic Development
|
Regiões
|
Milhares de chegadas
|
% de chegadas
|
Receita em milhões de US$
|
% da receita
|
África
|
20.562
|
3.5
|
8.031
|
1.9
|
A.Latina e Caribe
|
52.529
|
8.8
|
33.005
|
7.8
|
EUA e Canadá
|
62.177
|
10.5
|
73.186
|
17.3
|
Europa
|
351.612
|
59.2
|
215.743
|
51.0
|
Oriente Médio
|
15.256
|
2.6
|
8.037
|
1.9
|
Ásia (S e L)
|
91.502
|
15.4
|
84.743
|
20.0
|
t o t a l
|
593.638
|
100
|
422.745
|
100
|
São típicos movimentos temporários de população o turismo (objetivos: lazer e cultura); peregrinação
ou romaria (objetivo religioso, como os muçulmanos ao visitarem Meca;
os católicos, os judeus e muçulmanos - Jerusalém; os hinduístas - Benares, sua
cidade santa, ou o rio sagrado que é o Ganges); o nomadismo; a
transumância; os deslocamentos urbanos (migrações pendulares e
turbulência).
A
harmonização de interesses das empresas hoteleiras e das agências de viagens
(com seus pacotes turísticos) e a viabilização de grandes movimentos de pessoas
devido aos avanços tecnológicos nos meios de transportes trouxeram um alento
fortíssimo ao turismo. A Europa, em 1996, atraiu 350 milhões de turistas, que
lá consumiram cerca de US$ 215 bilhões, buscando o lazer de seus atrativos
naturais e históricos.
O nomadismo é mais um modo de vida, em vias de
desaparecimento, do que propriamente uma migração. É típico das estepes semiáridas
do Sahel (S do
Sahara) e do centro-oeste da Ásia (Usbequistão, Turquestão, Casaquistão) e no
Oriente Médio.
Já
estudamos que o Sahel e o Casaquistão sofrem um processo de desertificação - o
primeiro, em face da destruição das gramíneas e pisoteamento dos solos pelo
gado, além da mudança da agricultura tribal de subsistência pela monocultura; o
segundo, por causa da irrigação do cultivo de algodão, aumentando a evaporação
e diminuindo o débito fluvial dos rios Amu-Darya e Syr-Darya no Mar de Aral que
está secando.
O
nômade e sua família acompanham o gado em busca de pastos, na medida em que
estes escasseiam, vivendo, pois, em tendas desmontáveis. No caso do Oriente Médio os nômades
são comerciantes, estabecendo-se provisoriamente perto de comunidades com suas
feiras - tão logo o mercado esteja abastecido, mudam de lugar.
A
transumância é
uma migração sazonal (depende das estações do ano) e ocorria na Europa
Mediterrânea e ainda se dá no nordeste do Brasil.
No
sul da Europa, o pastor acompanhava o rebanho entre 2 áreas complementares,
enquanto sua família é sedentária. Esta migração sazonal devia-se ao fato de
que no inverno as pastagens alpinas estão cobertas de neve, ficando difícil
alimentar o rebanho ovino; em face disto, o pastor dirigia-se para o sopé dos
Alpes, onde neva menos e assim os pastos não ficam permanentemente nevados,
deixando sua família mais acima. No sopé dos Alpes, além de cuidar do rebanho,
tomava conta dos cultivos mediterrâneos (oliveiras, pereiras, macieiras,
videiras - de que, aliás, os países meridionais europeus são os maiores
produtores mundiais).
Quando
chegava o verão, o pastor retornava para o alto com o seu rebanho. A
transumância na Europa está deixando de existir na medida em que a
Europa se regionaliza com a UE e parte para a competição globalizante
com a APEC e a NAFTA; além disso, nas planícies litorâneas cada
vez mais se cultivam batata e trigo em uma transumância comercial em grandes
propriedades, além da criação intensiva e moderna de gado bovino, ovino e
caprino.
No
nordeste do Brasil os minifundiários do Sertão, em face da seca, vão trabalhar nos
latifúndios monocultores de cana-de-açúcar na Zona de Mata (litoral). Cessada a
estiagem do Sertão (interior) semi-árido, retornam a ele.
Os deslocamentos urbanos se constituem pelas migrações
diárias que se fazem nas das grandes cidades; são representadas
pelas migrações pendulares e pela turbulência.
As
migrações pendulares
recebem esta denominação pelo fato de se manifestarem pelo grande movimento
diário de trabalhadores da periferia (subúrbios) para a área central da cidade
de manhã, invertendo-se o movimento à tarde, quando retornam para suas casas.
Constitue-se, portanto, numa dinâmica de migração centro« periferia.
Simultaneamente às migrações
pendulares, acontece na área central um movimento de curta duração e muita
agitação, de manhã e de tarde, chamado de turbulência (ou "rush"). As
migrações pendulares têm sua intensidade condicionada ao tamanho das grandes
cidades, fazendo com que se valorize mais o solo urbano na área central e
forçando os trabalhadores a residirem cada vez mais longe nas
"cidades-dormitórios" ou satélites, aumentando o tempo de duração
deste movimento centro« periferia.
B) Migrações quanto ao
espaço de deslocamento das populações -
podem ser externas e internas.
a) Migrações externas (ou internacionais) ocorrem quando
as populações transpõem as fronteiras entre países. A emigração e a
imigração, em verdade, são duas etapas de um mesmo movimento - a de saída
(emigração) do país de origem, e a de entrada (imigração) no outro de destino.
Essa dinâmica de mobilidade
geográfica externa de população (emigração®
imigração) muda de acordo com a época e os fatores de atração e expulsão.
A Europa no século XIX
foi um continente de emigração,
em virtude do alto crescimento vegetativo da população, das revoluções liberais
e nacionalistas (como na Alemanha e Itália em seu movimento de unificação), da
falta de terras e empregos.
De
1950 a
1970 desenrolou-se a "era de ouro" das migrações externas. Com a reconstrução econômica pelo
Plano Marshall, a Europa Ocidental tornou-se uma área de imigração de africanos
e asiáticos (onde estava havendo a descolonização), como, por exemplo, de
marroquinos e argelinos para a França (tendo como porta de entrada a Espanha,
pelo porto de Algeciras, no sul); de indianos para a Inglaterra. Para a
Alemanha foram atraídos os "gastarbeiter" turcos e gregos.
Depois de l970, com uma crise geral de recessão e
desemprego decorrentes da Revolução tecnocientífica e do neoliberalismo,
providenciaram-se medidas restritivas à imigração a fim de não concorrer com
mão-de-obra nacional.
Os EUA são um país essencialmente de imigração
em face de sua hegemonia, lá ingressaram cerca de 40 milhões de
europeus, de l840 a 1920 - chamados de pioneiros no século passado (hoje:
"velhos imigrantes"); depois, os latino-americanos (especialmente os
"chicanos" e caribenhos) e asiáticos - chamados de "novos
imigrantes"após a II Guerra Mundial
Com a recessão a
partir da década de 70 adotou-se uma legislação restritiva à imigração: em 1990, o Presidente George Bush
decretou uma Lei de Imigração, confirmando leis anteriores, regulando a entrada
e residência de imigrantes. A partir de 1/4/97 quem não tiver o "green
card" poderá ser expulso do país.
O
Oriente Médio
antes das crises do petróleo, na década de 70, era uma área de emigração; com
os aumentos vertiginosos deste combustível naquela década tornou-se uma área de
imigração de muçulmanos do N da África e do S da Ásia. Atualmente, com a queda e estabilização
da cotação mundial do petróleo, com os conflitos (Guerra do Golfo, Israel x
palestinos) é área de emigração novamente, como dos curdos (perseguidos pelos
turcos e iraquianos), dos palestinos e dos libaneses.
A Europa Oriental, a
CEI e certos países subdesenvolvidos são áreas de
emigração de mão-de-obra qualificada ("fuga de cérebros").
A África Ocidental atraia, com suas plantations, as
populações do Sahel, que dali saíam em face das secas e fome.. Atualmente está
havendo emigrações daí para as áreas petrolíferas da Nigéria.
Hong Kong atraiu chineses,
mas a partir de 1 de julho de l997, ao sair da Comunidade Britânica e voltar à
soberania chinesa, está havendo emigração de empresários para a Inglaterra e
Austrália.
b)
Migrações internas -
dentre elas destacam-se o êxodo rural, migração campo® cidade, que pode ser tanto intra (dentro)
como inter-regional (de uma região para outra).
No
século XVIII, com a primeira fase da Revolução Industrial na Inglaterra, ocorreram os "cercamentos"
no campo, decorrendo o êxodo rural, o que era bom para a burguesia, pois a
mão-de-obra tornou-se abundante e barata. Atualmente, nas áreas centrais
(Europa Ocidental, América Anglo-Saxônica e Japão) praticamente não se efetua
esta migração campo-cidade, pois são muito industrializadas e urbanizadas
(cerca de 80% da população é urbana). Já nos países subdesenvolvidos, em
especial os industrializados da América Latina, acentuou-se o êxodo rural após a
II Guerra Mundial (ex.: o Brasil tinha 69% de população rural, hoje está em
torno de 24%).
O processo do êxodo
rural é
distinto entre países centrais e periféricos quanto à época histórica, aos fatores de atração e de
repulsão e aos seus resultados na urbanização.
Quanto à época histórica, o êxodo rural nos países
desenvolvidos da Europa ocorreu especialmente nos séculos XVIII e
XIX, portanto na primeira e segunda fase da Revolução Industrial; já nos países
periféricos acentuou este movimento após a II Guerra Mundial, urbanizando
enormemente a população. Como evidência disso: em l950 haviam só 3 cidades de
países subdesenvolvidos - Xangai, Buenos Aires e Calcutá, entre as 10 mais
populosas da Terra; em l995, são 8 cidades - a do México, S. Paulo, Xangai, Beijing,
Buenos Aires, Seul, Rio de Janeiro e Bombaim.
Quanto aos fatores de
expulsão da migração campo®
cidade, constatamos o seguinte:
·
Nas
áreas desenvolvidas a expulsão demográfica de populações rurais deveu-se
à adoção de novas tecnologias, em especial a mecanização em face
da própria dinâmica do mercado interno, vitalizando as inter-relações
campo-cidade nos países centrais pela Revolução Agrícola. No S e SE do Brasil,
após a década de 70, houve a mecanização com a agricultura comercial,
aumentando o êxodo rural.
·
Nos
países periféricos em geral, deve-se ao baixo padrão de vida
dos camponeses (dificuldade de acesso à escola, a tratamento médico e de
saneamento básico, além da renda baixa), visto que a maioria dos que migra
são pequenos proprietários, que não contam com o apoio
governamental (para a melhoria de técnicas agrícolas através de empréstimos
subsidiados) e não conseguem concorrer com grandes proprietários
(formadores de uma aristocracia rural poderosa, dona do poder político e
econômico), assim perdendo suas terras ou sendo expulsos delas (como acontece
com os sem-terra no Brasil).
Quanto
aos fatores de atração demográfica, observa-se o seguinte:
·
Nos
países desenvolvidos a industrialização (decorrente da I e II fases da
Revolução Industrial) abriu oportunidades de empregos nas cidades (a população
do setor primário passou para o secundário); quem recebe salário, torna-se
consumidor de produtos de lojas, armazéns, lazer (fazendo expandir o setor
terciário), criando-se um mercado interno cada vez mais dinâmico.
·
Nos
países periféricos, o que estimula a população rural vir para a cidade é
a influência dos meios de comunicação, como a televisão, mostrando suas
ruas asfaltadas e iluminadas, suas escolas, áreas de lazer. Como quem migra é
um deserdado e excluído, diz-se que o êxodo rural é uma transferência da
pobreza do campo para a cidade.
A conseqüência do êxodo
rural, tanto em países centrais como em periféricos, é a urbanização integrada
e desarticulada, respectivamente.
Suas características são:
® Urbanização integrada ou articulada - assim chamada porque a indústria
criou empregos e modernizou a agricultura, aumentando sua produtividade e
dinamizando a divisão local de trabalho, articulando o campo com a cidade, diminuindo a
população rural (que migrou) e aumentando a urbana (exercendo atividades
secundárias e terciárias). Durou cerca de um século na Europa e deveu-se a fatores
de transformações no campo (modernização com a mecanização). Observe o
esquema acima.
® Urbanização anômala ou desintegrada - não integrou cidade« campo, criando anomalias setoriais e
urbanas. O setor terciário cresceu muito mais que o secundário, ocorrendo sua
hipertrofia ou inchação, com o parasitismo social (traficantes,
mendigos,pivetes) e o subemprego (
camelôs, faxineiras...). Nas cidades contrastam formas urbanas modernas (como
shoppings, supermercados) com as sub-habitações da periferia (como as favelas,
os cortiços), muitas vezes sem saneamento básico.
Esta urbanização anômala intensificou-se a
partir da década de 50, devido a fatores de estagnação do campo (estrutura
agrária arcaica), acelerando o êxodo rural e a crescimento urbano,
dificultando a absorção dos migrantes rurais nos setores urbanos de produção,
aumentando a pobreza na periferia urbana, dificultando a racionalização de
investimentos em infraestrutura de transportes, escolas, hospitais, saneamento
básicos e piorando a qualidade de vida nas cidades.
3.3.3. - Conseqüências
gerais da mobilidade espacial das populações
Quando
grupos humanos migram, ocorre um processo de ocupação, povoamento e
organização do espaço geográfico. No local de destino desses grupos pode
haver outros povos. Quando se efetuam contatos entre povos afins étnica e
culturalmente, simplesmente os grupos migrantes se adaptam ao novo meio social,
se entrosa e há uma miscigenação étnica e cultural. Pode, também, acontecer uma
difusão cultural (em que a cultura superior predomina sobre a inferior)
ou a formação de quistos raciais em "ghettos" (não-assimilação
dos grupos em contato social e cultural devido a preconceitos de cor, ou
cultura, ou profissão - atualmente os imigrantes exercem, via de regra, funções
não qualificadas).
Estudamos,
outrossim, que há uma perda de
mão-de-obra qualificada, ou "fuga
de cérebros”, de certos países subdesenvolvidos, mas especialmente da
Europa Oriental e Rússia, acarretando prejuízos para os países de emigração,
pois arcaram com os custos de formação da mesma.
Sob
a alegação da perda de identidade nacional e, notadamente, em função da competição da mão-de-obra imigrante com
a local em conjunturas não-favoráveis de recessão e desemprego, surgem
grupos neonazistas xenófobos e racistas, avessos a estrangeiros (ex.:
holligans, skinheads na Europa Ocidental) e a restrição à imigração nas
fronteiras (ex.: latinoamericanos e asiáticos nos Estados Unidos, africanos e
asiáticos na Europa). Os espanhóis constroem atualmente um muro entre Ceuta e
Melila (suas possessões em Marrocos) para dificultar a ida de africanos para a
União Européia.
Geralmente
as imigrações apresentam o sentido de direção dos países ou regiões mais pobres
para os mais ricos. Sendo assim, está ocorrendo a remessa de poupança desses
imigrantes para os seus países de origem. Na década de 70, tal remessa orçava
em torno de US$ 5bilhões; em 1995, foi em torno de US$ 75 bilhões. Patenteia-se
tal fato pelos dekasseguis (brasileiros filhos de japoneses que estão no Japão
trabalhando) e pelos turcos da Alemanha, mandando dinheiro para suas famílias
nos países de origem.
3.4. - ESTRUTURA DA
POPULAÇÃO MUNDIAL
(estudo da composição etária, sexual e
ocupacional da população).
3.4.1. - Estrutura etária e sexual da
população
A - Estrutura etária
A
população é dividida em 3 faixas etárias: jovem (até l9 anos); adulta ou
madura (de 20 a
59 anos de idade); senil, velha ou idosa (após 60 anos). É analisada pela
pirâmide etária, representação gráfica em forma de triângulo, em cujo centro ou
nas laterais colocam-se as faixas etárias; à direita, o percentual do sexo
feminino; à esquerda, o percentual do sexo masculino. A pirâmide etária demonstra
o processo evolutivo demográfico de um país, dependendo do crescimento
vegetativo (mostrado na base da pirâmide etária) e da expectativa
de vida da população (quanto menor for o corpo e o ápice da pirâmide, menor
é a expectativa de vida) e retrata o seu desenvolvimento social e
econômico (países pobres apresentam base larga e corpo cada vez mais
afunilando devido ao alto crescimento vegetativo e baixa expectativa de vida,
vice-versa com os países centrais).
Está
havendo uma "revolução demográfica", em que a pirâmide etária está
cedendo lugar a um "retângulo demográfico" - segundo dados da ONU em
l995, na Alemanha os idosos representavam 35,8% da população absoluta, em 2010
será de 43,9%, em 2050 será de 67,2% e a PEA cairá para menos de 20%. Isto
afetará os programas de seguro-doença e velhice não só na Alemanha, como na
Europa Ocidental (com exceção da Bélgica), nos Estados Unidos e Japão.
A
estrutura etária da população está condicionada às particularidades do
crescimento vegetativo, dos processos migratórios (geralmente quem migra é o homem,
portanto em áreas de saída de população predomina o sexo feminino), de guerras.
Além disso, ela retrata os indicadores sociais e demográficos
(população escolarizável, maior ou menor disponibilidade de mão-de-obra no
mercado, expectativa de vida, investimentos sociais em escolas, hospitais,
etc.) e condiciona o encargo econômico da população ativa (que
trabalha e recebe um salário) em referência à inativa (a que não recebe
salário).
B - Tipos e particularidades da
estrutura etária das populações
Países
|
Jovens (%)
|
Adultos (%)
|
Velhos (%)
|
Suécia
|
24,8
|
52,0
|
23,2
|
Japão
|
29,0
|
52,4
|
18,6
|
E.U.A
|
31,0
|
52,3
|
16,7
|
Brasil
|
46,5
|
46,4
|
7,1
|
Egito
|
50,8
|
42,9
|
6,3
|
Nigéria
|
58,4
|
37,4
|
_ 4,2___
|
Quanto
à estrutura etária, os países desenvolvidos podem ser velhos e em fase de envelhecimento; enquanto os países
subdesenvolvidos são de população jovem.
Vejamos o quadro e vamos analisá-lo.
a) Regime demográfico senil - países de população envelhecida (Europa Ocidental)
A base da pirâmide
etária é estreita,
pois já completaram sua transição demográfica desde l920, com crescimento
vegetativo pequeno (entre 0 e 1%) ou negativo e pouca população jovem (cerca de
30%). Há mais população ativa que inativa, portanto menor o encargo econômico
(ex: custos de educação).A expectativa de vida é elevada (ex.: Holanda=
76 anos), em face do alto padrão de vida, com a maior porcentagem de idosos; a
TM ocorre mais devido às doenças de degenerescência ou de velhice (como as
cardiopatias, neoplasias, etc.).
Apenas
cerca de 3l países possuem regime demográfico senil; entretanto, a
tendência é de aumentar: em l960 havia 5% de velhos no planeta, no final do
século deverá ser de 6,5%.
Os efeitos da velhice
demográfica são: a redução das taxas de natalidade e de fecundidade
humana; elevação dos custos de aposentadoria e de assistência médica à
população senil; alterações no perfil social e cultural da população na
medida em que a população velha é mais conservadora e que a mão-de-obra
estrangeira vem suprir a demanda de funções não-qualificadas (lixo, limpeza
pública).
b) Países em fase de envelhecimento (exemplo: os da América Anglo-Saxônica)
A tendência do crescimento natural é de 0% (ZPG ou
"zero populational growth"), estando, portanto, no caminho da
senilidade demográfica. A base da pirâmide etária está diminuindo, em face da
redução das taxas de natalidade e de fecundidade humana e, assim, da população
jovem. A expectativa de vida é elevada, pois apresentam alto padrão de vida.
O Brasil era um país jovem na
década de 70, mas a partir da década de 80 começou a participar do regime
demográfico maduro, pois sua população está envelhecendo, embora continue a ser
um país subdesenvolvido, com grandes contrastes sociais e econômicos e 6
milhões de mulheres esterilizadas em l986.
c)
Regime demográfico jovem dos países subdesenvolvidos.
Cerca
de 50% da população é jovem, refletindo-se em elevadas taxas de fertilidade
humana e de crescimento vegetativo e numa base larga da pirâmide etária.
As
laterais da pirâmide etária se adelgaçam após os 40 anos, devido à baixa
expectativa de vida de suas populações, em especial a dos 31 países mais
pobres, nos chamados "bolsões de pobreza" da África subsaarianal (em
número de 21), da Ásia Meridional e Oriental (que são 8), da América Central (é
o Haiti) e da Oceania (é Samoa), que ainda estão na primeira fase de transição
demográfica. Já a maioria dos países periféricos está na segunda fase de
transição demográfica. Como tem alto CV, tem mais população jovem e inativa
e alto encargo econômico (necessidade de investimentos em educação).
Em face de sua incapacidade
econômica e técnica, estes países destinam pequena porcentagem de seu PNB aos
investimentos sociais (educação, saúde, saneamento), como, por exemplo, a
Nigéria que aplica apenas 4,1% dos seus US$34 bilhões de PNB nestas
necessidades; a Índia investe apenas 0.7% do PIB em saúde. Por outro lado,
os países industrializados, como os EUA, investem mais (13,8% de seu PNB de 5,7
trilhões de dólares em pesquisas médicas e educação).
Conforme previsões da ONU, no
período de 1960 a
2000, a
juventude demográfica permanecerá nos países africanos; a maturidade
demográfica na América Latina, S e SE da Ásia; a velhice demográfica estará
representada também pela América Anglo-Saxônica e Ásia Oriental, além da
Europa. A população idosa no mundo evoluirá de 4,9%, na década de 60, para 12%
no ano 2.000, enquanto a população jovem vai decrescer para 20% nos países
desenvolvidos, conforme dados da ONU.
C)
Particularidades da estrutura sexual da população
a.
Há
certa proporção equilibrada entre os sexos na população da América Latina, SE
da Ásia e África; enquanto na Europa, na CEI e EUA há relativamente mais
mulheres. Dos 209 países do planeta, 107 têm mais mulheres, 86 tem mais homens
e em l6 há equilíbrio. Quem migra a grandes distâncias é o homem, daí em áreas
de emigração há mais mulheres (5
a 6%). A partir do ano 2.000 haverá uma proporção igual
entre homens e mulheres no conjunto da população, de acordo com dados da ONU.
b.
A
mortalidade masculina é maior que a feminina, esta com maior expectativa de
vida (daí o topo da pirâmide etária ser um pouco mais largo à direita).
c.
A
porcentagem de população ativa feminina é maior nos países centrais, em face da
urbanização. As mulheres do meio urbano recorrem mais a meios anticoncepcionais
que as do meio rural, portanto a sua taxa de fertilidade é menor. Contudo, ela
recebe uma remuneração menor que a do homem, mesmo tendo a mesma qualificação
profissional, na maioria dos países; além disso, luta contra preconceitos
sexuais quanto a sua inteligência e papel social, particularmente nos países
periféricos, nos islâmicos (ainda submetidas às tradições religiosas e
patriarcais) e nas áreas rurais. Nas classes populares, elas são submetidas a
uma dupla jornada de trabalho, pois trabalham em casa e ainda exercem funções
extra-domésticas, a fim de complementar a renda do marido. Finalmente, a mulher
ainda é transformada em objeto de consumo pela mídia.
3.4.2.
- ESTRUTURA OCUPACIONAL DA POPULAÇÃO (Distribuição Setorial da PEA)
A)
Introdução
A distribuição da renda
nacional é importante na análise da estrutura de uma população, que apresenta
uma estratificação (divisão em classes sociais) e mobilidade social tanto maior
quanto mais dinâmica e rica for a sociedade. Nos países desenvolvidos as lutas
sindicais, a legislação social, a rede de assistência hospitalar e as
oportunidades educacionais redistribuíram mais equitativamente a renda
nacional.
Nos subdesenvolvidos, porém,
a distribuição de renda é injusta; a elite está mais voltada para os interesses
do mercado externo, do que à melhoria do poder aquisitivo dos trabalhadores.
Além disso, criam um sistema legal e tributário que onera mais as classes
trabalhadoras e menos os empresários e financistas que operam com capital
especulativo. O sistema tributário é constituído mais de impostos indiretos
(que recai sobre todos os cidadãos, mais grava mais sobre os pobres) do que
diretos (que incide sobre quem ganha mais).
O desemprego, o trabalho
flexível das políticas de globalização e do neoliberalismo tem aguçado mais
ainda o problema da concentração de riqueza.
B)
Relações entre a PEA e os custos de formação do indivíduo
População
economicamente ativa, ou PEA, é a que exerce uma atividade extra doméstica e
por ela recebe uma remuneração. Os que estão participando efetivamente do
mercado de trabalho incluem-se na população ocupada. População economicamente
inativa, ou PEI, é a que não trabalha (crianças, inválidos), ou que, mesmo trabalhando
não é remunerada (estudantes, domésticas). Quando a população ativa está
efetivamente inserida no mercado de trabalho e não desempregada, diz-se que é
uma população ocupada.
A
relação entre a PEA e a PEI está condicionada à estrutura etária e sexual da
população, bem como ao desenvolvimento econômico dos países. As estatísticas
sobre estas relações não são muito conclusivas, devido ao subemprego e à
economia informal. Mesmo assim, sabemos que os países desenvolvidos
apresentam mais população ativa que a inativa; podemos, assim, concluir que
eles têm um encargo econômico menor que o dos países periféricos (menor
sobrecarga dos ativos em relação aos inativos, visto que os mesmos apresentam
maior crescimento vegetativo e mais população jovem).
B)
Estrutura Setorial da PEA
Países
|
Setor primário
|
Setor secundário
|
Setor terciário
|
PEA (%)
|
PEI (%)
|
Bangladesh
|
57,2 %
|
12,1 %
|
30,7 %
|
28,0
|
72,0
|
Brasil
|
23,3
|
23,8
|
52,9
|
43,2
|
56,8
|
EUA
|
2,9
|
25,6
|
71,5
|
50,1
|
49,9
|
Índia
|
66,4
|
12,5
|
21.1
|
29,3
|
70,7
|
Japão
|
6,5
|
33,7
|
59,8
|
52,2
|
47,8
|
França
|
4.6
|
26.2
|
69.2
|
43.8
|
56.2
|
Fonte: Banco Mundial (1995)
|
Representa
a distribuição da PEA pelos setores primário (agricultura, pecuária,
extrativismo), secundário (indústrias) e terciário (serviços: comércio, bancos,
escolas) de produção. O setor primário de produção é rural, mas com a
verticalização das atividades econômicas com os complexos agroindustriais cada
vez mais se industrializa a agropecuária.
A organização das atividades
econômicas nos 3 setores mencionados acima é discutível - em primeiro lugar,
devido ao fato de que, com a Revolução tecnocientífica, surge o setor
quaternário (pesquisa) que está incluído estatisticamente no terciário; em
segundo lugar, o setor terciário, ao lado de sua função complementar dos
setores primário e secundário (por ele se induz ao consumo dos produtos
agropecuários e industriais) exerce uma função notável de aumento de
produtividade nos setores primário (pela biotecnologia elaborada em
laboratórios) e secundário (pela automatização, robotização, informática). É o
processo denominado de terciarização, que esquematizamos no gráfico acima.
A
função do setor terciário, portanto, não é apenas indireta em relação ao
consumo (induzindo-o pela propaganda), mas também direta na produção (já que
inclui o setor quaternário, que surgiu com a Revolução científica e
tecnológica, compreendendo as pesquisas em laboratórios e universidades).
Cabe
lembrar, também, que com a terceirização
está havendo a alocação de serviços antes incluída apenas em atividades
terciárias (ex.: antes o setor de restaurante da Volkswagen era ocupado
por empregados da própria empresa, hoje ela contrata empresas que prestam este
serviço). A terceirização representa a outorga a terceiros (firmas de porte
médio e pequeno que realizam serviços) aquilo que não é a função específica de
uma empresa no seu processo produtivo.
Os setores urbanos de
produção - o secundário e o terciário - formam 2 circuitos econômicos,
conforme o geógrafo Milton Santos: o inferior e o superior. Os circuitos
de economia inferior (ou informal) e superior (ou formal e legal) são opostos,
mas complementares e diferentes quanto à tecnologia, organização, regime de
trabalho. O circuito inferior depende do superior, independente do
desenvolvimento econômico dos países e emprega mais mão-de-obra que o superior,
seus estoques são menores, as despesas administrativas são pequenas, as
relações com os clientes são mais personalizadas, etc. Veja o resumo:
Circuitos
|
Crédito
|
Estoques
|
Empregos
|
Capital
|
Tecnologia
|
Organização
|
Superior
|
Bancário e institucional
|
Grandes e
qualitativos
|
reduzidos
|
importante
|
capital-intensivo
|
burocrática
|
Inferior
|
pessoal
|
pequenos
|
volumoso
|
Pouco volume
|
trabalho-intensivo
|
primitiva
|
A
distribuição setorial da PEA revela o desenvolvimento dos países.
a)
Países subdesenvolvidos - Os pré-industriais são
aqueles que ainda não fizeram sequer uma Revolução Agrícola, ponto inicial
para deslanchar o processo de crescimento econômico de um país, pois representa
uma mudança profunda na economia rural, de subordinada à natureza e ao trabalho
humano para outra com maior tecnologia e produtividade.
Países
|
PNB
per capita US$
|
Produto
agrícola
|
%
da exportação
|
%
população rural
|
Etiópia
|
30
|
café
|
72
|
85
|
Rep.
Centro-Africana
|
280
|
café
|
47
|
55
|
Chade
|
80
|
algodão
|
91
|
72
|
Desta forma, estes países apresentam
a maior parte de sua PEA no setor primário, usando, pois, mais energia
braçal, como em Bangladesh (57% de PEA na agricultura), Índia (55%) e
Uganda (85%).
O espaço geográfico da
produção e da circulação é desarticulado, com pequena interdependência na
divisão local e regional de trabalho: no campo predomina uma agricultura de auto-consumo
complementar à plantation (esta nas melhores terras); nas cidades situam-se
fábricas de bens de consumo semiduráveis (alimentares e têxteis), que exige
tecnologia simples e mão-de-obra pouco qualificada e abundante (o que não
falta, pois o crescimento vegetativo de sua população é elevado).
Estas sociedades rurais de
baixo poder aquisitivo constituem mercado interno muito fraco (até a
rede ferroviária é litorânea, ligando áreas produtoras aos portos para
facilitar a exportação, demonstrando a submissão ao mercado mundial de "commodities").
Os países
subdesenvolvidos industrializados como o Brasil, México, Argentina (na
América Latina), a África do Sul e os "tigres asiáticos" apresentam
características setoriais da PEA diferentes. Como Cingapura e Hong Kong são
"paraísos fiscais", CIDADES-ESTADOS e portos estratégicos de rotas
marítimas internacionais apresentam grande parte da sua população ativa nos
setores urbanos e muito pouco na agricultura (em Cingapura há apenas 1% da sua
PEA no setor primário), sendo, portanto, uma estrutura setorial atípica para
países subdesenvolvidos.
Nos
países subdesenvolvidos industrializados da América Latina, o Brasil
apresenta 23% da PEA no setor primário, a Argentina 12% (semelhante a de países
industrializados), o secundário com 25%. A industrialização é tardia (feita
desde o fim da I Guerra Mundial), desintegrada e multinacionalizada (após a II
Guerra Mundial) produzindo para uma parcela pequena da população.
O
êxodo rural foi tão acentuado nestes países que as indústrias não foram capazes
de absorver a população que migrou do campo, acarretando um acúmulo de PEA nos
setor de serviços: é
a hipertrofia do setor terciário de produção (ou terciarização
hipertrofiada), com 53% da PEA, retratando-se no parasitismo social
(meninos de rua, traficantes, assaltantes, mendigos) e no subemprego (camelôs,
vendedores de praia, faxineiras, etc., sem carteira assinada e fazendo
trabalhos ocasionais), estimulando mais o circuito inferior da economia. Esta
urbanização é denominada de urbanização terciária pelo geógrafo Milton Santos.
b)
Países centrais - o que individualiza setorialmente
estes países é a porcentagem pequena de PEA no setor primário de produção, pois
com sua modernização deu-se uma Revolução Agrícola, diminuindo a necessidade
de mão-de-obra e aumentando a produtividade rural.
A
Revolução Industrial e Agrícola processada nestes países criou uma economia
de produção em escala (em quantidade e variedade para um mercado consumidor
de alto poder aquisitivo, formado por uma sociedade de consumo de massa). A industrialização
foi integrada, estimulando a interdependência da divisão local de trabalho
e a interação dos agentes de produção e consumo no mercado interno.
Estes
países altamente industrializados com tecnologia de ponta representam o centro
da economia capitalista atual, em face do seu amplo domínio do espaço
globalizado e multipolar atual.
As
grandes empresas e os governos são os maiores financiadores de pesquisas de alto nível (terciário superior ou quaternário),
que exigem um elevado volume de capital para investimentos. Em face disto, as
transnacionais precisam fabricar seus produtos em grande quantidade e
comercializá-los rapidamente em escala planetária, a fim de cobrirem estes
gastos em pesquisa - esta é uma das causas da globalização e
regionalização em megablocos.
A Revolução
tecnocientífica
nesses países protagoniza a criação de cidades científicas, ou tecnópolis (ex.:
Tsukuba, a mais famosa entre outras l9 do Japão; Sillicon Valley, nos EUA;
Toulouse, Paris-sul e Île-de-France na França) onde se desenvolvem
atividades quaternárias de pesquisa em laboratórios de grandes empresas
e universidades integradas localmente como com o resto do mundo, através dos
fluxos telemáticos ou infovias (a mais formidável rede de comunicação do
espaço geográfico terrestre).
Em
virtude do avanço tecnológico nos transportes e comunicações, está ocorrendo
uma dispersão das indústrias, não condicionadas mais tanto às matérias-primas e
fontes de energia como antes, e, por isso, descentralizando as unidades
produtivas, mas concentrando a sua gestão e coordenação em metrópoles ou nos
países centrais. Está havendo, pois, uma desterritorialização das ações do
homem no espaço geográfico pelos fluxos da telemática.
Nestes
países centrais, cria-se uma Terceira Onda, no dizer de Alvin Tofler,
com base na indústria eletrônica e de computação (1o núcleo),
espacial (segundo núcleo), aproveitamento das riquezas de mares e oceanos (3o)
e biotecnologia (quarto núcleo) e alterações substanciais nos meios de
comunicação de massa. Surgem novas profissões, especialmente no circuito
superior da economia.