quarta-feira, 16 de setembro de 2015 0 comentários

As Migrações



As Migrações

Os movimentos horizontais ou transladativos, são os deslocamentos definitivos ou temporários dos habitantes de um lugar para outro. É o caso do nomadismo, das migrações, da transumância e do êxodo rural.
O nomadismo é o movimento constante praticado pelos povos sem residência fixa. É o caso dos ciganos.
As migrações são movimentos de pessoas de uma região para outra. São internas quando ocorrem dentro de um mesmo país e externas quando se dá de um país para outro, daí o fato de existir:
  • emigração: a saída da população de um lugar;
  • imigração: a entrada ou chegada de estrangeiros num lugar.
Os estrangeiros que se encontram morando no Brasil foram emigrantes de seus países – Portugal, Espanha, Itália, Japão – e, quando aqui chegaram, tornaram-se imigrantes.
Os países de antiga colonização e de elevada densidade demográfica são, quase sempre, países de emigração, como Portugal, Espanha, Itália, Japão, China, Coréia do Sul, Alemanha, Holanda e muitos outros.
Os países de colonização recente e de baixa densidade demográfica são países de imigração, como Estados Unidos, Canadá, Brasil, Austrália, Venezuela e outros mais.
A emigração de um país pode ser causada por vários fatores, como crises econômicas, doenças epidêmicas. Perseguições políticas e religiosas. Os preconceitos raciais também provocam emigração.
A imigração no Brasil foi autorizada em 1808, com a vinda da Família Real. No entanto, só em 1818 chegaram os primeiros imigrantes. Eram suíços-alemães que se estabeleceram no atual Estado do Rio de janeiro, onde fundaram a cidade de Nova Friburgo.
Mas, somente com a necessidade de mão-de-obra para a cultura cafeeira, após 1850, é que se intensificaram as correntes imigratórias.
No governo Getúlio Vargas foi adotada a quota de imigração (1934), limitando a entrada de imigrantes em nosso país.
O Brasil recebe imigrantes das mais variadas origens, principalmente da:
  • Europa: portugueses e italianos;
  • América Latina: uruguaios, argentinos e chilenos;
  • Ásia: chineses e coreanos;
  • América do Norte: estadunidenses.
O órgão do governo que cuida da imigração no Brasil é o Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
É comum no Brasil, a dedicação de certos imigrantes a determinadas atividades econômicas. É por essa razão que relacionamos:
  • portugueses com padarias e bares;
  • espanhóis com restaurantes, ferro-velho, indústrias gráficas, de mecânica e de metalurgia;
  • japoneses com mercearias ou quitandas, tinturarias ou lavanderias, fotografias e eletrônica;
  • turcos (árabes e sírio-libaneses) com comércio de tecidos e de roupas;
  • chineses com pastelarias e restaurante.
As Migrações Internas
As migrações internas estão intimamente ligadas ao processo de mudança da economia brasileira e à criação de novos pólos de desenvolvimento.
As atividades econômicas que atraíram as migrações internas no Brasil foram:
  • a criação de gado no sertão do Nordeste, no século XVII, quando nordestinos deixaram a Zona da Mata, devido ã decadência da cana-de-açúcar;
  • a mineração, no século XVIII, quando nordestinos e paulistas deslocaram-se para Minas Gerais devido à descoberta de ouro;
  • a cultura do café na zona de terra roxa, que determinou novo movimento migratório (nordestinos e mineiros) para São Paulo e Paraná, em fins do século XIX e começo do atual;
  • a coleta do látex (borracha natural), em fins do século XIX e começo do século XX, quando nordestinos procuraram a Amazônia e conquistaram o Acre, que antes pertencia à Bolívia;
  • surto algodoeiro, na década de 30, atraindo nordestinos e mineiros para o Estado de São Paulo.
Atualmente, a construção de estradas, de hidrelétricas e de obras urbanas determina novas frentes de migração para o Norte do país.
Resumindo , podemos concluir que a região:
  • Sudeste é a de maior atração, portanto, com saldo migratório positivo;
  • Nordeste é a de maior dispersão, portanto, com saldo migratório negativo.
Transumância
A transumância é um movimento periódico e reversivo, causado por fatores climáticos, com a mudança das estações ou secas temporárias.
O pastor nômade das regiões montanhosas é um transumante. Ele vive com seu rebanho:
  • nas montanhas, durante o verão e o outono;
  • na planície, durante o inverno e a primavera.
No Brasil, a transumância ocorre entre o Sertão e a Zona da Mata do Nordeste.
Pequenos proprietários plantam suas roças na época das chuvas – o verão. Na época das secas – o inverno -, eles mudam-se para a Zona da Mata, onde trabalham como empregados nas plantações de cana-de-açúcar.
As famílias ficam no sertão, aguardando as colheitas e o retorno dos entes queridos. A volta para o sertão dá-se com o reinício das chuvas, quando iniciam novas plantações.
Esse movimento ficou conhecido em todo Brasil através da letra da música "Asa branca", cantada pelo saudoso Luiz Gonzaga:
“Hoje longe muitas léguas”.
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo,
Pra mim voltar pro meu sertão".
Êxodo Rural
O êxodo rural é o abandono do campo em busca das cidades. Tem sido muito comum no Brasil, após nosso grande surto industrial. As cidades em fase de crescimento e de industrialização oferecem melhores condições de trabalho e de vida. Em busca dessas condições, milhares de retirantes abandonam o "sossego" dos sítios e das fazendas e se aventuram pelas nossas cidades.
O sucesso esperado não ocorre com todos esses trabalhadores, quase sempre carregado de família. Em muitos casos, a situação piora muito.
O êxodo rural tem muitas conseqüências e todas elas são bastante negativas.
Para o campo, as conseqüências do êxodo rural são:
  • diminuição da população rural;
  • diminuição da mão-de-obra rural;
  • diminuição da produção agrícola, com elevação do custo de vida.
As conseqüências do êxodo rural mais desastrosas ocorrem nas cidades. São elas:
  • desemprego e subemprego, quando o mercado de trabalho é pequeno para a quantidade de mão-de-obra disponível;
  • falta de habitações, gerando preços elevados no aluguel ou na compra das habitações;
  • formação de favelas e de bairros operários, sem as benfeitorias da cidade;
  • desaparecimento do cinturão verde (chácaras e sítios que envolvem a cidade), devido à especulação imobiliária;
  • deficiências nos serviços públicos urbanos, como água encanada e esgoto, coleta de lixo transportes coletivos;
  • crises de abastecimento no mercado urbano, com falta de gêneros alimentícios e outros produtos;
  • marginalidade social, com delinqüência, mendicância e prostituição.
As cidades brasileiras que mais sofrem as conseqüências do êxodo rural são as capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Fortaleza e outras mais.
O aparecimento do bóia-fria é, também, conseqüência do êxodo rural.
Os bóias-frias são trabalhadores rurais que moram nas periferias das cidades.
Os deslocamentos desses trabalhadores entrem a cidade e o campo são feitos, muitas vezes, de maneira arriscada, em veículos sem nenhuma segurança.
A explosão demográfica
Explosão demográfica é o grande aumento da população da Terra, ocorrido principalmente no século XX.
É, na verdade, com se fosse uma bomba de pavio acesas prestes a explodir, daí a comparação da explosão com a população.
Até o século XIX, a mortalidade era extremamente elevada, pois a humanidade não tinha recursos suficientes para combater grande parte das doenças.
As grandes descobertas do nosso século, como a penicilina, as vacinas e os antibióticos. Diminuíram bruscamente o índice de mortalidade. Como a natalidade não foi reduzida, o resultado foi o aumento do crescimento vegetativo.
População brasileira no conjunto global


Ano
Efetivos em 1 000 hab.
% efetivo global no Brasil



Globo
Brasil

1800
1850
1900
906.000
1.171.000
1.608.000
3.600
7.100
17.438
0,397
0,606
1,084

1950
1960
1970
1980
1994
2000
2.517.000
2.990.000
3.600.000
4.280.000
5.188.000
5.590.000
6.129.000
51.944
70.119
93.139
121.113
150.368
155.000
179.487
2,063
2,345
2,587
2,829
2,898
2,772
2,2928












Recordando:
  • Emigração é a saída de população de um lugar.
  • Imigração é a entrada de estrangeiros para morar em um lugar.
  • China, Itália e Portugal são países de emigração.
  • Austrália e Estados Unidos são países de imigração.
  • Brasil passou a ser país de emigração.
  • Nordeste é a região que mais dispersou população do Brasil.
  • Êxodo rural tem mais conseqüências negativas.
  • Explosão demográfica é o aumento exagerado da população.

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"Aspectos Demográficos"

"Aspectos Demográficos"
Conceitos demográficos fundamentais
Na tentativa de equacionar tais problemas e contradições, os detentores do poder lançam mão de estudos e proposições que nem sempre atingem seus objetivos. De qualquer forma, os estudos e análises fornecem instrumental teórico aos dirigentes para que sejam tomadas medidas de ordem prática. Só que a natureza dessas medidas varia em função dos diversos interesses (políticos, econômicos etc.).
Para facilitar a comparação dos vários aspectos demográficos, vejamos alguns conceitos fundamentais a esse respeito.
População absoluta: É o número total de habitantes de um lugar (país, cidade etc.).
Densidade demográfica: É o número (a média) de habitantes por Km². Para obtê-la basta dividir a população absoluta pela área da região analisada.
Densidade e superpovoamento: Uma área densamente povoada não é necessariamente superpovoada; isso porque o conceito de superpovoamento não diz respeito apenas ao número de habitantes por Km², mas também se refere ao nível sócio-econômico e tecnológico da população em relação à área ocupada. Nesse caso, ocorre superpovoamento quando há descompasso do ponto de vista das condições sócio-econômicas da população em relação à área ocupada. A Holanda, por exemplo, é um país densamente povoado (434 hab/Km²), mas não é superpovoado (a população desfruta de alto padrão de vida em um espaço muito pequeno), ao passo que países com a Índia (247 hab/Km²) e Bangladesh (740 hab/Km²) são superpovoados. O superpovoamento, portanto é relativo.
Recenseamento ou censo demográfico: É o levantamento ou a coleta periódica dos dados estatísticos (como nascimentos, migrações etc.) da população de um país, cidade etc. Sua importância é fundamental para melhor conhecimento dos vários aspectos demográficos, bem como para fins de investimentos, planejamentos, projeções futuras e outras finalidades. No Brasil o censo é realizado em períodos de 10 em 10 anos, tendo também censos econômicos em meado das décadas para melhor sabermos da situação do país.
Taxa de nascimento: É a relação entre o número de nascimentos ocorridos em 1 ano o número de habitantes. Uma taxa de natalidade de 30% (por mil) significa que nasceram trinta crianças (vivas) para cada grupo de mil habitantes em 1 ano.
Taxa de mortalidade: É a relação entre os números de óbitos ocorridos em 1 ano e o número de habitantes (mortalidade geral). Além disse tipo de mortalidade a mortalidade infantil, que é o número de crianças mortas antes de completar 1 ano de vida para cada grupo de mil crianças com menos de 1 ano de idade. Essa taxa é um importante indicador do nível de desenvolvimento sócio-econômico dos diversos países do mundo.
Taxa de crescimento vegetativo: É a diferença entre as taxas de natalidade e de mortalidade. Não inclui os estrangeiros residentes no país.
Taxa de fecundidade: Número médio de filhos por mulher em idade de procriar, que, por convenção, tem entre 15 e 49.
Taxa de mortalidade infantil: Relação entre o número de óbitos de crianças com menos de um ano, multiplicado por mil, e o número de crianças nascidas vivas durante o ano civil.
Entre 1950 e 1997, a população da Terra passou de 2,5 bilhões, aproximadamente, para cerca de 5,8 bilhões, sendo que hoje passa dos 6 bilhões. Não são poucos os demógrafos, economistas e outros estudiosos que consideram esta última cifras bastante elevada e o ritmo de crescimento nesse período absurdamente rápido.
Com efeito, quando o tema crescimento populacional vem à tona, é inevitável surgirem polêmicas e posições antagônicas. Embora ocorra de forma diferenciada nas diversas regiões do planeta, o crescimento populacional é uma preocupação que afeta todos os seus habitantes.
Com respeito às perspectivas de elevação populacional para as próximas décadas, várias questões vêm sendo suscitadas: a disponibilidade de recursos naturais para abastecer o conjunto crescente de populações; a deteriorização do meio ambiente e, portanto, da quantidade de vida; assim como a capacidade ou não, da tecnologia em fazer frente à demanda de alimentos e recursos necessários a vida do homem na terra.

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MAIS CONTEÚDO SOBRE POPULAÇÃO MUNDIAL PARA 1º ANO CMLEM 2015



A DINÂMICA DA POPULAÇÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
PROFº Giovanni Guimarães

3.1. - O CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO DA TERRA

3.1.2. - As taxas demográficas como referenciais do desenvolvimento social e econômico.
A população mundial é de cerca de 5.8 bilhões de habitantes. De acordo com Philip Hartec, da Universidade de Stanford, se houvesse 100 habitantes na Terra, 57seriam da Ásia, 21 europeus, 8 africanos e 4 do hemisfério oeste (Américas); 52 seriam mulheres; 48 homens; 30% brancos. Apenas 6 pessoas, por sinal americanas, concentrariam 59% da riqueza mundial. Apenas 1 teria educação superior.
Áreas
Pop. Absoluta (bilhões)
Pop. relativa
Mundo
5.7
42
Ásia
3.378
122
Europa
0.52
103
América
0.773
37
África
0.728
24
Oceania
0.023
2.6
C.E.I.
0.285
12.9
A densidade demográfica ou população relativa - representa o número de habitantes por km2, consistindo no quociente da população absoluta pela área habitada por ela (d= pa¸ s). Diz-se que um continente, país ou região é muito povoado quando possui uma grande população relativa; é bastante populoso quando tem uma grande população absoluta. Assim, por exemplo, os países mais populosos da Terra, em 1995, são: China (1.27 bilhões), Índia (1 bilhão), Estados Unidos (276 milhões), Indonésia (190 milhões), Brasil (158 milhões), Rússia (150), Japão (124), Paquistão (124), Bangladesh (120) e Nigéria (110). Já os mais povoados são: Bangladesh, Taiwan, Coréia do Sul, Holanda, Japão, Bélgica, Líbano, Índia, Grã-Bretanha e Alemanha.
Países
Pop. Absoluta (milhões)
hab./km2
China
1270
127
Índia
1000
304
EUA
263
28
Indonésia
198
104
BRASIL
158
18.5
Rússia
148
8.6
Paquistão
128
159
Japão
125
370
Bangladesh
118
813
Desta população absoluta da Terra 3,5 bilhões são pobres e 1 bilhão extremamente pobres. Ao nos referirmos a área mais ou menos povoada está usando um critério demográfico. No entanto, a propósito do superpovoamento é mister se conceituar bem claro esta palavra que está relacionada a condições sociais, econômicas e tecnológicas dos habitantes de uma área.
Segundo o geógrafo Pierre George, pode-se conceber, teoricamente, a superpopulação absoluta quando a população ultrapassa um limite máximo de povoamento e assim não pode aumentar a produção ou distribuição de recursos necessários à sua sobrevivência. Este limite é mais de ordem tecnológica e econômica do que territorial - se a população ultrapassá-lo começa a baixar seu padrão de vida. Portanto, quando grande parte da população não tem acesso aos recursos produzidos, ou quando estes são pouco mobilizados em relação à totalidade dos mobilizáveis (devido à pequena qualificação técnica ou pobreza da população) podemos falar em superpovoamento relativo. O Brasil é grande, muito populoso, pouco povoado, campeão mundial de desigualdades sociais e daí apresenta superpovoamento em várias regiões.
Países
TN (‰)
TM (‰)
Mortalidade infantil (‰)
Crescimento vegetativo (%)
Expectativa de vida  (em anos)
Argentina
20,0
9,0
36,0
1,1
71,0
China
19,7
6,7
33,0
l,3
70,2
Estados Unidos
15,0
8,0
10,0
0,7
76,0
Holanda
11,0
8,0
8,0
0,3
77,0
Indonésia
32,2
11,7
58,0
2,0
57,2
México
31,2
5,0
53,0
2,6
69,8
Nigéria
46,5
14,0
l2l,0
3,2
52,5
Taxas demográficas - Banco Mundial - 1995
A taxa de natalidade representa o quociente do no de nascimentos vivos por ano (x 1.000) pela população absoluta (TN= nv x 1.000¸ pa). Essa taxa revela o desenvolvimento do país: nos países centrais é de 5‰, nos países periféricos é de 31‰. Deve-se isto ao fato de que nos países subdesenvolvidos há mais população jovem, com maior taxa de fertilidade humana e consequentemente com maior número de nascimentos vivos.
A taxa de fecundidade humana é a média de filhos por mulher em idade fértil, dos l5 aos cerca de 45 anos - nos países desenvolvidos é de l,5; nos pobres é de 6-7. Quando chega a 2 ocorre uma estabilização populacional. Quando diminui a fecundidade, também decresce a mortalidade infantil.
A taxa de mortalidade se relaciona aos óbitos ocorridos em um ano e pode ser matematicamente assim: óbito/ano x 1.000/ pa (população absoluta). Quanto menor a taxa de mortalidade, maior a expectativa de vida. As taxas de mortalidade infantil são muito elevadas nos países pobres, já que são demonstrativas das suas condições deficientes de alimentação, de atendimento médico-hospitalar, de saneamento básico. A TM é a primeira a mudar, depois a TN.
Natimortos não são computados estatisticamente, escondendo, pois, as condições de alimentação e de assistência médica às gestantes durante a gravidez e o parto. A mortalidade infantil pode ser precoce ou neonatal (até 28 dias de vida, devido a condições higiênicas de parto, deficiências congênitas, de saneamentos básicos e médico-hospitalares) e pós-neonatal (de 1 a 12 meses, em face da pobreza e condições de subnutrição e de doenças infectocontagiosas a que estiverem sujeitos os bebês). A mortalidade infantil no mundo caiu de l950 a 1985 - na Europa de 62‰ para 13‰, na América do Sul de 126‰ para 58‰, na Ásia de 181‰ para 73‰, na África de 187‰ para 106‰ (exceto na África subsariana).
A mortalidade, no cômputo geral da população, nos países ricos deve-se mais a doenças senis ou de velhice (maior esperança de vida), enquanto nos países pobres está ligada às deficientes condições de alimentação, de saneamento básico e de atendimento médico-hospitalar.
O crescimento vegetativo (CV) ou natural representa a diferença entre as taxas de natalidade e a de mortalidade. O crescimento vegetativo pode ser: a) positivo, quando superior a 0 (CV= TN - TM=>0) e
b) negativo ou de reposição (quando £ 0, típico dos países altamente industrializados europeus com população envelhecida). Os países periféricos mais pobres, também denominados PMD (países menos desenvolvidos) da África subsaariana, do Extremo Oriente e Sudeste da Ásia, são os que apresentam as maiores taxas de crescimento vegetativo, assinaladas em % (entre 3 e 4%).
O crescimento demográfico ou total é o resultado do crescimento vegetativo, acrescido do contingente imigratório e subtraído do emigratório (cd= cv + imigração e - emigração).
No início do século XX, a população mundial ultrapassou 1,6 milhão e em 1964 duplicou. Assim, foram necessários 64 anos para que ela duplicasse. Durante os dois primeiros terços do século XX, a população da América aumentou 4,2 vezes. A população da África quase quatriplicou e a de Ásia aumentou 2,5 vezes, enquanto que a população da ex-URSS duplicou e a da Europa aumentou pouco mais de 1,5 vez.
Para avaliar as condições de saúde (através da mortalidade infantil e da expectativa de vida), de escolaridade (pelo nível de alfabetização e de acesso ao ensino médio e superior) e de renda (mais o poder de compra dos salários do que a renda per capita) a ONU, por intermédio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) formulou o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). No ano de 1999, estabeleceu-se novo critério de avaliação, considerando menos a renda individual aplicada em educação e saúde e mais quanto o Estado investe nestes setores. Em face disso, o Brasil que estava em 68o lugar, em 1998, passou para 79o, enquanto Cuba que estava em 85o mudou para o 58o.
Os indicadores sociais de saúde, educação e renda, divulgados pela ONU anualmente, revelam as disparidades sociais e econômicas entre os países ricos e pobres: de um lado, os países da América Anglo-Saxônica (Canadá e Estados Unidos em 1o e 3o lugares), da Europa Ocidental e Austrália - com um alto grau de desenvolvimento humano; e, de outro lado, países da África Subsaariana (ao sul do deserto do Saara, com exceção da África do Sul) com os mais baixos graus de desenvolvimento humano.

3.1.2. - Transição demográfica
A transição demográfica é uma teoria surgida na mesma ocasião da Quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, para explicar a tendência da população mundial a se equilibrar, na medida em que diminuem as taxas de natalidade e de mortalidade.
Toda e qualquer transição significa uma mudança ou passagem de um período para outro. Deste modo, a transição demográfica representa a passagem de um período primitivo ou pré-industrial (em que as taxas de natalidade (TN) e mortalidade (TM) são elevadas, embora o crescimento vegetativo seja baixo) para um período atual ou evoluído (com baixas TN, TM e CV, sendo este último inferior a 1%). Esta passagem ou transição demográfica se efetua em duas fases: a primeira, em que a TN permanece alta, mas a TM começa a diminuir (daí o CV ser muito alto); a segunda, em que a TN também começa a diminuir.
Os países desenvolvidos todos já completaram todos os ciclos de transição demográfica, ocorrendo a estabilização de sua população no período atual, como, por exemplo, os países europeus (desde l920) e os da América Anglo-Saxônica (na década de 40) e Japão (imediatamente após a II Guerra Mundial). A quase generalidade dos países subdesenvolvidos está na segunda fase de transição demográfica (em que o CV está diminuindo); os PMD - países menos desenvolvidos ou "bolsões de pobreza (do Sahel, SE e L da Ásia e l da A. Latina e Oceania),porém, estão na primeira fase.
A estabilização da população animal acontece de forma distinta em relação à humana: na primeira interferem condicionamentos de ordem natural, enquanto na segunda são culturais e econômicos. Num ecossistema, o equilíbrio de crescimento de uma população animal ocorre quando há dificuldades no meio ambiente, como falta de alimentos, a competição entre as espécies por um território e a existência de predadores, acarretando um aumento da mortalidade.
Num meio social, os controles de crescimento são histórico-culturais (ex: Revolução Neolítica ou Agrícola a ± 9.000 a.c e a Revolução Industrial na Europa, no século XVIII), sócio-econômicos (quanto maior o padrão de vida, isto é, a escolaridade, a renda, a condição médico-sanitária menor é o crescimento vegetativo) e tecnológicos (vacinação em massa acabou com o equilíbrio natural do período primitivo, pois diminui a taxa de mortalidade).
A) Síntese da transição demográfica dos países europeus
a) Período primitivo - na Europa permaneceu até o século XVIII, com uma TM em torno de 35‰.
Em fins do século XVIII, o reverendo protestante Thomas Robert Malthus, propôs a teoria catastrofista, segundo a qual a produção de alimentos aumenta em progressão aritmética (2,4,6,8,l0...), enquanto a população cresce em progressão geométrica (2,4,8,l6,32,64,l28,...),dobrando a cada 25 anos. Com a população crescendo nesse ritmo e escasseando as terras, seria inevitável a fome.
Malthus afirmava que o controle da população no período primitivo dava-se através de agentes naturais (ex.: epidemias, miséria, fome), da abstinência sexual, do casamento tardio e do próprio mercado e não pelo Estado. Ele fazia parte da Escola Liberal, contra a intervenção do Estado (que instituiu naquela época a Lei dos Pobres, garantindo uma ajuda para os mesmos, retrucando ele que isto faria com que não se lutasse contra a sua situação, acomodando-se a ela devido ao auxílio governamental).
No século XIX ocorreram as duas fases de transição demográfica e a primeira aceleração demográfica do mundo contemporânea, particularmente na Europa.
b) Primeira fase de transição demográfica - Na primeira fase de transição na Europa Ocidental, diminuiu a TM em face da criação de tubulações de redes de esgotos nas cidades européias: em 1810 (na Inglaterra), em l850 (Paris) introduziu-se a descarga de água nos sanitários e seu escoamento para as redes de drenagem (antes só eram usadas para as águas pluviais), mas aumentando o mau cheiro nos rios. Mesmo assim, na década 1861/70, deu-se uma epidemia de cólera na Inglaterra. As redes de água e esgotos introduzidas até a primeira metade do século, aumentaram a expectativa de vida da população.
Na 1a metade do século XIX, na Inglaterra, ainda havia uma grande concentração de renda (Foville dizia em 1833 que ela rica "no mundo, rica em ricos"). Os movimentos sindicalistas (não mais o cartismo, que era mais político que corporativo, mas sim o trade-unionismo) conseguiram, ao longo do século, melhorias salariais mais para a elite de trabalhadores e não tanto para a maioria deles.
As manifestações sindicais (greves, piquetes, lutas contra patrões) eram reprimidas violentamente, como aconteceu no dia 1 de maio de l888, em Chicago e nos vários países europeus. Delas resultaram, entretanto, melhores condições de trabalho (seguridade social, férias, salário mínimo, repouso semanal), além de educação e saúde públicas. Assim, no final do século XIX, os salários eram comprometidos em cerca de 50% para comprar alimentos e o restante para aluguel, vestuário e outras necessidades.
A TM decresceu em 5 percentuais de 1850 até a década de 1891/90 (de 31 para 26‰) em face da melhoria das condições de saneamento básico na Europa. Na Inglaterra, a TM baixou de 22,4 para 19,1‰, enquanto a TN baixou de 32,6‰ para 32,4‰. Como a TN ainda estava elevada, houve um crescimento vegetativo grande, favorável à burguesia (diminuindo o valor dos salários) e contribuindo para a grande emigração européia do século XIX (cerca de 50 milhões foram para a América, Austrália e Nova Zelândia).
c) Segunda fase da transição demográfica na Europa Ocidental.
Em face da II fase da Revolução Industrial, a urbanização cresceu 66% no noroeste europeu (de 26,1 para 43,4% a população urbana) e a escolarização de crianças subiu na Inglaterra de 8 para 59%. Na segunda fase de transição demográfica (final do século XIX até a década de 20 do século XX) diminuiu a TN, em face de reformas sociais e econômicas, dos custos de educação das crianças e da urbanização decorrente da industrialização, enfim, do melhor padrão de vida das populações. As diferenças entre a TN e TM eram desprezíveis no final do século XIX (20-25‰), depois passaram para 15-20‰ no início do século XX e para 12 - 15‰ entre as duas guerras mundiais (1918 a 1939).
As idéias catastrofistas de Malthus não se concretizaram na Europa Ocidental. Já no final do século XVIII, Jenner divulgava estudos sobre os efeitos da vacina antivariólica (inoculação em vacas, daí o nome vacina), diminuindo a TM. Por outro lado, a TN diminuiu (e por consequência o CV também) em vista da melhoria da qualidade de vida do europeu: no final do século XIX os ingleses consumiam mais batatas, açúcar e carne, pois a divisão local de trabalho se dinamizou com a mecanização do campo (junto com a Revolução Industrial aconteceu a Revolução Agrícola, para compensar o êxodo rural e as emigrações européias - especialmente para a América) e a escolaridade das crianças aumentou. Além disso, os historiadores demonstraram que, após a Revolução Liberal de l848, a classe operária conscientizou-se de sua própria força e começou a lutar por seus direitos - nesta época surgem os movimentos socialistas, cartistas (na Inglaterra) e trade-unionistas canalisando esforços neste sentido.
Ainda no século XIX, Marx dizia que o excesso de população era uma necessidade histórica do capitalismo, pois aumenta a competição da mão-de-obra, diminuindo o valor da força de trabalho e aumentando os lucros dos empresários. Ao contrário de Malthus, Marx afirmava que o Estado deveria distribuir melhor a riqueza para atenuar a miséria e a fome da população. O interessante a observar é que os países social-democratas europeus foram os criadores do "welfare state", ou o Estado do bem-estar social ao longo do século XX, que vigorou até a implantação do neoliberalismo a partir da década de 70.
B) Transição demográfica nos países periféricos
É incompleta, visto que ainda não chegou ao período atual ou evoluído. O período primitivo vigorou até a década de 40 (II Guerra Mundial), com elevadas taxas de natalidade- 45‰ e de mortalidade-32‰).
 A primeira fase de transição ocorreu no pós-guerra, de 1940 a 1960, com a diminuição da TM, em virtude da ação da OMS (Organização Mundial de Saúde), da Cruz Vermelha Internacional, das transnacionais representadas por laboratórios farmacêuticos: enfim, da Revolução Médico-sanitária. Esta se manifestou pelo surgimento de novas vacinas, criação de novos medicamentos como a penicilina, divulgação da higiene social, das campanhas de vacinação em massa, do aumento de ambulatórios e maternidades para tratamento pré e pós-natal, diminuindo muito a mortalidade infantil.
A Revolução Médico-Sanitária acarretou uma diminuição considerável da taxa de mortalidade (cerca de 19.7‰ para 9.4‰ no Brasil, da década de 40 à de 60) e, por conseqüência, do crescimento vegetativo (chegando a quase 3% no Brasil). A esta segunda aceleração demográfica ocorrida nos países subdesenvolvidos nesta primeira fase, denominou-se explosão demográfica.
*A segunda fase de transição começou após a década de 60, quando a taxa de natalidade começou a declinar também, devido à invenção da pílula anticoncepcional, além da urbanização (famílias das cidades têm menos filhos que as rurais) e do feminismo. Assim o crescimento vegetativo passou de 3,0% na década de 70, para 1,7% nesta década de 90, com exclusão dos "bolsões de pobreza", onde, ainda, está muito alto, pois estão na 1a fase de transição demográfica.
O que distingue, pois, o crescimento populacional entre regiões ricas e pobres é a taxa de natalidade e a taxa de fecundidade humana, além de tradições familiares, o casamento precoce e a religião (ex.; no Oriente). As taxas de natalidade e de fecundidade humana estão ligadas, numa razão inversa, ao padrão de vida da população (alto padrão de vida = baixas TN e fecundidade humana).
Além da distribuição de renda e as condições médico-sanitárias, o padrão de vida é aferido pelo analfabetismo e situações de evasão escolar e depreciação da rede pública de ensino. Tais situações diminuem a eficiência da mão-de-obra, do planejamento familiar e o aperfeiçoamento do grau de desenvolvimento cientifico e tecnológico. A recuperação da rede escolar leva cerca de duas gerações - tristemente ocorreu o inverso no Brasil desde 1968, após a ditadura militar.
3.1.3. - Crescimento da População e da produção alimentar. Paradoxos e soluções.
A) Introdução
É maior a produção agrícola nos países centrais que nos periféricos, embora nestes tenha aumentado após a II Guerra Mundial, exclusive nos "bolsões de pobreza". Em sua totalidade, a produção alimentar daria para alimentar 9 bilhões de pessoas, pouco mais de 50% da população absoluta da Terra.
Segundo o Banco Mundial, a disponibilidade média planetária de alimentos pode aumentar cerca de 3,0 % ao ano até o ano 2.000, enquanto, por outro lado, a evolução demográfica do crescimento vegetativo pode chegar a 1% na maioria dos países, exceto naqueles países mais pobres. Nestes o CV é muito grande (3,0%) enquanto a produção de alimentos é pequena.
Nos países mais pobres é onde ocorre mais a fome crônica ou epidêmica, decorrente da ausência de nutrientes na alimentação cotidiana, repercutindo em elevadas taxas de mortalidade infantil.
É paradoxal observar que, por um lado, os países centrais completaram sua transição demográfica e aumentaram a produção em face da Revolução Industrial e Agrícola e, assim, apresentam uma produção maior que o crescimento demográfico; por outro lado, os países subdesenvolvidos não completaram sua transição demográfica e ainda não solucionaram seus problemas sociais de maior e eqüitativa distribuição de renda, bem como de produção de alimentos para atender as necessidades de suas populações.
Uma evidência disso se mostra na Índia: desde sua independência em 15 de agosto de 1947 sua população passou de 345 milhões para 1 bilhão, em 15/8/1999; mesmo dobrando sua produção de arroz e triplicando a de trigo, sua situação demográfica é lamentável.
O PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) criou um "relógio de pobreza" para demonstrar o crescimento do problema da pobreza: 1,3 bilhões de pessoas vivem com menos de US$ 1 por dia, sendo que este número acresce de 23 milhões por ano. Mesmo países que passaram por taxas de crescimento econômico, graças à implementação de políticas neoliberais, como o Chile, tem 1,3 milhões de população jovem pobre, que não pode superar o problema, pois os 20% mais pobres só representam 3,9% da renda nacional.
B) A fome não é um problema de escassez, mas resultante da injusta divisão internacional de trabalho.
Se há um drama pungente da atualidade é o da fome, que se reveste de um caráter endêmico ou epidêmico. Recorremos ao dicionário Aurélio, para definir os termos - "endemia: doença que existe constantemente em determinado lugar e ataca número maior ou menor de indivíduos." e “epidemia: “surto de agravação de uma endemia.”“.
Podemos, então, identificar a fome endêmica como estrutural, no sentido de que grande parte da população dos países subdesenvolvidos é subnutrida, afetando sua expectativa de vida e testemunhando elevadas taxas de mortalidade infantil. Já a fome epidêmica é mais conjuntural, quando ocorrem fatos naturais (secas, enchentes, tufões, abalos sísmicos, erupções vulcânicas), políticos (guerras, perseguições, conflitos tribais) e econômicos (crises de recessão como nas depressões da economia capitalista). Nestes casos conjunturais pode haver o que se denomina de famine (fome aguda, de duração relativamente curta).
As razões estruturais que justificam a fome endêmica nos países pobres são: o crescimento vegetativo alto; a baixa cotação do “commodities" (produtos primários) no mercado internacional ora pela capacidade de manipulação das transnacionais, ora por seus próprios preços serem baixos; dependência das importações em face da introdução da plantation pelo colonialismo nos países periféricos, inserindo-os no mercado globalizante da atualidade (produção destinada mais ao mercado externo que ao interno); a racionalidade especulativa do lucro e do mercado na economia capitalista (quando uma colheita é farta e há um estoque muito grande de um produto agrícola ou sua cotação no mercado for alta, é preferível não produzi-lo mais, ou jogar fora parte da colheita, ou destiná-la a outro objetivo fora do mercado para que seus preços não caiam).
Já estudamos que com a globalização e com o aumento de circulação do capital volátil após a década de 70, o jogo e a especulação nas bolsas têm maior realce que a aplicação de investimentos sociais em educação, saúde e melhoria da produção agropastoril no mundo. Segundo Milton Santos, a globalização provoca a "primazia do econômico sobre o político, do instrumental sobre a finalidade e do dinheiro sobre o homem". Mesmo o capital produtivo tende a ser aplicado mais nos países desenvolvidos, em face da possibilidade de retorno mais imediato, visto que possuem um mercado mais forte e, assim, mais atrativo.
A ONU, através da FAO (Food and Agricultural Organization), elaborou projetos agrícolas muito custosos para os países do Sahel (sul do deserto do Saara) nas bacias dos rios Gâmbia, Níger, Senegal; nem por isto, no entanto, aumentou a produção alimentar para suas populações e, pelo contrário, cresceu sua dependência econômica tanto pela importação de produtos agrícolas, como pelos juros de dívidas contraídas junto ao Banco Mundial, e, ainda, pela redução do valor das exportações agrícolas.
Outros fatos lamentáveis a registrar. A ajuda humanitária enviada pelos países centrais em situações de emergências, muitas vezes se degenera em seus objetivos por políticos corruptos dos países subdesenvolvidos. Estes, por outro lado, são dominados por uma elite econômica que se assenhoreia do poder e elabora leis mais favoráveis a si mesmas, do que à maioria da população, constituindo um verdadeiro mandarinato, cercado de privilégios e distribuindo-os, também, aos tecnoburocratas e magistrados que os cerca.
C) Soluções propostas aos dilemas da pobreza e fome dos países subdesenvolvidos.
À procura de soluções aos problemas relacionados à fome e pobreza dos países periféricos defronta-se duas concepções: a neomaltusiana e a reformista.
Os países centrais e as classes dominantes dos países subdesenvolvidos são os adeptos da Escola neomaltusiana ou pessimista. Eles partem da tese de que crescimento populacional é sinônimo de pobreza; quanto maior esta, mais será desviados os investimentos do Estado para fins não-produtivos (ex.; escolas, hospitais). Sendo assim, cabe ao Estado o papel de controlar o crescimento populacional através de métodos contraceptivos (como já foi feito na China-década de 60, na Índia - década de 70, e em Cingapura). Organizações não-governamentais têm adotado medidas neomaltusianas no NE do Brasil, desde a década de 6O, mas esta região continua com os mais baixos indicadores sociais do país. Portanto, esta escola procura resolver os problemas demográficos, atacando os seus efeitos (alto crescimento vegetativo) e não a sua causa principal (a situação de pobreza) das populações.
Ademais, sabemos que há uma verdadeira sangria de evasão de capitais dos países pobres, para o pagamento de juros de dívidas externas e para a remessa de lucros das transnacionais, além de uma enorme concentração de renda nos 20% mais ricos desses países. Na década de 90, se assiste a vilania do Estado desviar recursos para o pagamento desses juros e para estimular o capital especulativo para equilibrar suas dívidas, em vez de diminuir seus déficits interno e externo e aplicar investimentos na produção.
Uma nova corrente desta escola é a dos ecomaltusianos, que prognosticam a destruição dos ecossistemas das áreas de baixas latitudes, em virtude da maior demanda de terras e seus produtos com o crescimento vertiginoso da população, como na África subsaariana. Pregam, pois, a necessidade do controle da natalidade, como um meio eficaz de preservar o meio ambiente. Suas idéias, entretanto, não merecem crédito absoluto, visto que sabemos que as sociedades industriais dos países desenvolvidos destroem mais o meio ambiente, embora representem apenas 1/5 da população mundial.
A escola reformista ou otimista baseia-se nas evidências históricas, ocorridas especialmente da Europa Ocidental no século passado, Os otimistas argumentam que reformas sociais e econômicas liberam forças produtivas (como o trabalho qualificado), melhoram a distribuição de alimentos e, sobretudo, o padrão de vida (maior escolaridade, adequadas condições médico-sanitárias e distribuição de renda). Quanto maior o padrão de vida, menor é o número de integrantes dos conjuntos familiares - isto é válido tanto para as classes sociais, como para os países. Conclusão: maior padrão de vida resulta em um planejamento familiar e, conseqüentemente, em menores taxas de natalidade e de crescimento natural ou vegetativo.
População Mundial (%)-1993

Economias
% Mundial
PNB - %
Baixa renda
56.2
79
Média Renda
29
16.8
Alta renda
14.8
4.2
Há um fato relevante já estudado anteriormente. A globalização, novo nome do imperialismo, através dos seus agentes (transnacionais, bancos internacionais e fundos de pensão e de investimentos), provocou nas últimas décadas uma acumulação ainda maior de capital nos países centrais. Veja a tabela ao lado.
Para diminuir a pobreza e a desigualdade sociais há três políticas: a de preços, as estruturais e as compensatórias. As políticas de preços relacionam-se aos salários. As políticas estruturais visam a repartir a renda nacional através do acesso à terra (pela reforma agrária) e a recursos financeiros e educacionais (crédito a pequenos produtores, melhores escolas). É uma política de longo prazo e de efeitos permanentes, como aconteceu no Japão e está ocorrendo na Coréia do Sul. As políticas compensatórias sanam apenas as distorções provocadas pelas desigualdades sociais, isto é, atacam as conseqüências, mas não as causas do problema (cesta básica de alimentos, seguro-desemprego, abono salarial, renda mínima). Esta é uma política de curto prazo, acarreta uma transferência de patrimônio mas estigmatiza os pobres.
3.2. DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL
3.2.1. - Introdução
Tradicionalmente, costuma-se dizer que as áreas são ecumênicas quando apresentam condições naturais favoráveis à ocupação humana (como os climas temperados oceânicos, as planícies aluvionais, os solos férteis) e áreas anecumênicas, as que dificultam a ocupação humana (exs: desertos, pólos). Os limites geográficos do ecúmeno são de 78o de latitude norte do Equador (na Zona Polar Ártica, ficando, pois os outros l2o sem população) a 55o de latitude S do Equador (extremo meridional da América).
Entretanto, a distribuição desigual da população terrestre deve-se menos aos fatores naturais e mais aos históricos e econômicos, na medida em que, se valorizando uma determinada área que atrai mais população, ela se torna mais populosa que outra. Além disso, a modernização acarretada pela Revolução tecnocientífica está superando as adversidades físicas do planeta, está criando novas formas de transportes que facilitam a conquista de novos espaços.
Além disto, esta desigualdade da população relativa do planeta está relacionada, também, ao processo de crescimento diferencial da população na Terra (exemplo: a Europa duplicou sua população de 1860 a 1960, enquanto a América do Sul duplicou nos últimos 30 anos).
Mesmo tecendo estas considerações, vamos levar em conta os fatores naturais, histórico-culturais e econômicos que condicionam a irregularidade da distribuição da população na Terra.
3.2.2. - Condicionamentos naturais, históricos e econômicos à distribuição da população mundial.
A) Condições naturais: relevo, hidrografia, clima, vegetação e solos.
a) Relevo - as planícies contém cerca de 55% da população mundial, especialmente as aluvionais formadas pelo transporte e sedimentação no curso inferior dos rios (como as do delta do Ganges com ± 3000 hab/km2 e vale do Mekong, na Ásia Monçônica). Já os planaltos apresentam cerca de 48% do contingente demográfico mundial.
Na América Andina, excepcionalmente, os planaltos são mais povoados que as planícies costeiras (geralmente estreitas e comprimidas entre os Andes e o mar) e o lado oriental (dominado pelo clima equatorial e a Floresta Amazônica, cuja temperatura, umidade e heterogeneidade acentuadas dificultam ação humana).
b) Hidrografia - os rios representaram um fator de sedentariedade dos povos primitivos, criando as civilizações de regadio no Egito (o Nilo transporta sedimentos vulcânicos do Maciço da Etiópia e outros aluviões para o seu médio e baixo curso, no deserto do Saara, tornando suas margens agricultáveis, desde os tempos dos faraós), na Mesopotâmia (no atual Iraque, onde há também muita exploração de petróleo), no Indo e Ganges. Os solos aluvionais e o clima monçônico favorecem a rizicultura submersa no sul e sudeste da Ásia, que é um "formigueiro humano", tal a quantidade de sua população.
Ainda hoje, prestam um serviço inestimável na irrigação (especialmente em regiões dominadas pelos climas tipos - áridos e semiáridos). Este é um dos entraves às negociações de paz entre Israel e os países árabes vizinhos, pois controla as nascentes dos rios, que irrigam os cultivos praticados naquela área. Outro exemplo é o do rio S. Francisco, que poderia acabar com a "indústria da seca" no Sertão semiárido do nordeste do Brasil.
Os rios, especialmente os de planície (os de planaltos, através de eclusas), podem servir como um meio de transporte hidroviário, que é o mais barato, pois carrega mais mercadorias e consome menos energia (seus custos são praticamente o de carga e descarga dos produtos). Na Europa (os rios Reno, Volga-Don, Ródano, Elba); no nordeste dos Estados e sudeste do Canadá, o S. Lourenço; na América do Sul, o Amazonas, o Paraná e o Paraguai. Na foz desses rios há portos de grande movimentação de cargas (o melhor exemplo é o de Rotterdam, no Reno).
Desde tempos imemoriais, os rios abastecem de água as cidades às suas margens. Em face da poluição por dejetos industriais e urbanos, especialmente nas grandes metrópoles, esse abastecimento d’água está diminuindo.
Os rios de planalto fornecem energia hidrelétrica, devido aos desníveis do seu leito e à forte correnteza. Geralmente as usinas siderúrgicas situam-se às margens dos rios, pois suas águas podem resfriar as partes da guseria, por onde sae o material fundido dos alto-fornos. As populações ribeirinhas dos países subdesenvolvidos retiram dos rios parte do seu sustento, através da pesca.
Por todas essas influências dos rios na organização do espaço, eles representam um elemento de atração de população.

c) Clima - mesmo com os avanços tecnológicos da atualidade os climas polares (tipo E com médias térmicas baixíssimas de no mínimo - 25oC no interior e 0oC no litoral, durante o inverno; a Antártida registrou a temperatura negativa recorde da Terra: -88,3oC), os desérticos (com suas amplitudes térmicas diárias muito grandes, solos estéreis e estiagens prolongadas) e os equatoriais (com suas chuvas abundantes e bem distribuídas durante o ano) apresentam enormes dificuldades à ocupação humana. Assim, exemplificando, a Antártida é desabitada; o Saara é pouco maior que o Brasil, mas com apenas 10 milhões de habitantes (concentrados nos oásis).
Alguns autores chamam aos climas polares, equatoriais e desérticos de "repulsivos". As Zonas Térmicas que apresentam a maior porcentagem da população mundial são as Temperada do Norte (em face de ser a área mais industrializada e urbanizada da Terra) e a Intertropical.

d) Vegetação - as florestas equatoriais devido ao fato de serem muito biodiversificadas e densas, constituindo um emaranhado de árvores, cipós e epífitas, desfavorecem a ocupação humana. Uma demonstração dessa influência: na Amazônia a população é ribeirinha para facilitar o acesso com outras comunidades; a Região norte do Brasil significa 45,44% da superfície do país, mas apenas 7% da sua população absoluta.
As florestas de médias latitudes, por serem mais homogêneas, favorecem a vida do homem e são as mais devastadas da Terra, embora a industrialização e urbanização tenham contribuído enormemente para tal. Nas estepes semiáridas da África e Ásia se praticava o pastoreio nômade, que exige muita terra e pouca população.
e) Solos - os naturalmente férteis, como a terra-roxa do SE do Brasil (produto da decomposição da rocha magmática extrusiva ou vulcânica chamada de basalto), o massapê na Zona da Mata do nordeste do Brasil ou os solos de campos temperados (em especial as pradarias norte-americanas), atraíram colonizadores europeus. Entretanto, mesmo não sendo fértil o solo, o Estado pode elaborar políticas de ocupação e daí a necessidade de aplicação de investimentos, a fim de melhorar sua qualidade. O solo de cerrados do Brasil, como todo solo tropical é laterítico e, portanto ácido, mas foi corrigida a sua acidez pela técnica da calagem, com incentivos do governo, tornando o Centro-Oeste uma área grande produtora de grãos e mais povoada que há 30 anos. Israel transformou suas terras áridas em solo agricultável em face da necessidade da presença muito grande de imigrantes, especialmente provenientes da antiga União Soviética.
f) A proximidade do mar também influi na distribuição da população ora por causa do processo de colonização, ora pela facilidade de comércio, ora pela presença de planícies costeiras.
B) Condicionamentos histórico-culturais:
O processo de integração territorial de um país leva geralmente o Estado a patrocinar ou estimular a ocupação de áreas mesmo naturalmente inóspitas, como aconteceu com o Império Russo com a ocupação da Sibéria extremamente fria já antes do século XIX. O governo brasileiro, durante a ditadura militar, estimulou a conquista do Centro-Oeste e da Amazônia com incentivos fiscais e creditícios a projetos agropastoris e construindo rodovias. Nos Estados Unidos, no século XIX, houve a corrida para o "far-west" através da iniciativa dos pioneiros e do próprio governo com a "Homestead Act", lei pela qual se doavam terras das pradarias para quem as cultivasse por um determinado período, atraindo muitos imigrantes europeus.
A Europa Ocidental apresenta uma densidade demográfica elevada devido à Revolução Industrial e ao seu processo antigo de povoamento. A área litorânea do Brasil concentra 82% da sua população absoluta em face do processo de colonização do litoral para o interior, já que o nosso país foi uma colônia de exploração e sua produção era voltada totalmente para o mercado externo. A costa L dos EUA (especialmente o NE), a Ásia Monçônica e o centro-oeste da Europa foram as primeiras a serem povoadas, daí possuírem muita população relativa.

C) Condicionamentos econômicos:
As atividades econômicas exercem papel importante na organização do espaço geográfico. No entanto, o trabalho humano se diversifica conforme o tipo de atividade econômica e assim vai precisar de mais ou menos força de trabalho para organizar o espaço, de acordo com sua evolução técnica. Deste modo, a agricultura mecanizada exige pouca mão-de-obra, promovendo uma baixa população relativa onde é praticada. Por outro lado, a Ásia Monçônica, porém, apresenta 50% da população mundial em face, sobretudo, de sua agricultura intensiva de subsistência, a rizicultura submersa, que exige numerosa mão-de-obra, ocupando não só as planícies aluvionais como até as encostas montanhosas, através da construção de terraços.
Podemos colocar a seguinte seqüência decrescente na distribuição da população: áreas industriais (mais povoadas) ® agrícolas ® de criação de gado ® de extrativismo ® de pastoreio nômade (menos povoadas).
Os fatores físicos (A), histórico-culturais (B) e econômicos (C) combinam-se através dos tempos, condicionando a evolução econômica e a formação do espaço geográfico. As áreas mais povoadas da Terra são o NE dos EUA, o W da Europa e a Ásia Monçônica.
3.3. - MOBILIDADE GEOGRÁFICA: conjugação entre atração e repulsão demográficas.
3.3.l. - Dinâmica das migrações humanas
Estruturalmente, os países industrializados, via de regra, oferecem melhores condições de vida que os subdesenvolvidos, o que justifica o fato de estes serem áreas de repulsão, enquanto aqueles são de atração demográfica. Manifestações dessa dinâmica são os "braceros" mexicanos e outros latino-americanos imigrarem para os EUA, ainda que ilegalmente; ou os marroquinos, argelinos e tunisianos terem imigrado para a França. Aqui no Brasil, deram-se muitas migrações de nordestinos para o Sudeste, pois é a região mais desenvolvida do país.
Conjunturalmente (ou circunstancialmente) quando acontece uma crise de um sistema; como quando os países (mesmo os desenvolvidos) passam por dificuldades econômicas (cíclicas no capitalismo) impõem severas restrições à imigração, para não concorrer com a mão-de-obra nativa. Acontece isto nos EUA (Immigration Act de Bush, em l990 e a obrigatoriedade do "green card" para os estrangeiros residentes a partir de 1/abril/1997) e nos países europeus, após as crises da década de 70 em diante, escasseando a oferta de empregos em face da Revolução Científica e Tecnológica e da política neoliberal.
Os acidentes da natureza, como enchentes, terremotos, erupções vulcânicas, secas, provocam saída de população, especialmente quando a área é pobre e, portanto superpovoada.
Nessa dinâmica de movimentação de populações conjugam-se fatores estruturais e conjunturais, notadamente os de ordem econômica, mas influindo, também, os de natureza política e militar, como conflitos internos (ex: os que acontecem na África e os ocorridos na ex-Iugoslávia), problemas de fronteiras, formação de novas nações (a ex-Iugoslávia deu origem à Croácia, Sérvia, Montenegro, Bósnia-Herzegovina, Eslovênia), transformações políticas e econômicas (ex: Europa Oriental e ex-URSS depois da glasnost e Perestroika, estão em transição do socialismo para o capitalismo, daí as emigrações para a Europa Ocidental, especialmente de mão-de-obra qualificada, a que se chama "fuga de cérebros").
Há uma relação muito grande entre a mobilidade geográfica das populações, o crescimento demográfico e econômico: quem migra é, de modo geral, mão-de-obra já formada, que trabalha e ganha uma renda e assim forma um mercado de consumo. Em face disso, os EUA já era o maior mercado consumidor no fim do século passado. Além disso, verifica-se a dispersão (saída) de população de regiões estagnadas economicamente e sua concentração (entrada) em áreas prósperas ao longo do tempo na superfície terrestre.
3.3.2. - Modalidades de movimentos migratórios
As migrações podem ser estudadas sob dois enfoques: quanto ao tempo de duração (podem ser definitivas e temporárias) e ao espaço de deslocamento (externas ou internacionais e as internas, estas podendo ser intra-regionais - quando realizadas dentro das regiões do país, ou inter-regionais - quando feitas de uma região para a outra, no interior do mesmo país).
Há, também, migrações forçadas (como durante as guerras e perseguições políticas), espontâneas (por lazer ou fins religiosos) e controladas (pelo Estado, ora restringindo, ora facilitando os deslocamentos migratórios). Segundo a ACNUR (Comissão das Nações Unidas para os Refugiados) e a Cruz Vermelha Internacional há cerca de 60 milhões de refugiados de guerras, especialmente na África assolada por conflitos tribais.
A) Migrações quanto ao tempo de duração
a) Migrações definitivas - quando o migrante se estabelece de forma permanente na área para onde se deslocou e daí não sai mais. Os nordestinos do Brasil foram os "candangos" construtores de Brasília e formam grande parte da população periférica da Grande S.Paulo e do Grande Rio (na Baixada Fluminense). A Alemanha de pós-guerra atraiu os "gastarbeiter" ou trabalhadores turcos e gregos.
b) Migrações temporárias - podem ser diárias (como a dos empregados para suas empresas e vice-versa, geralmente em dias úteis da semana); sazonais (dependem das estações do ano, como nas épocas de colheitas, como as de "bóias-frias" no Brasil) e por tempo indeterminado.

TURISMO INTERNACIONAL (1996)- Fonte:Thea Sinclair, Tourism and Economic Development
Regiões
Milhares de chegadas
% de chegadas
Receita em milhões de US$
% da receita
África
20.562
3.5
8.031
1.9
A.Latina e Caribe
52.529
8.8
33.005
7.8
EUA e Canadá
62.177
10.5
73.186
17.3
Europa
351.612
59.2
215.743
51.0
Oriente Médio
15.256
2.6
8.037
1.9
Ásia (S e L)
91.502
15.4
84.743
20.0
t o t a l
593.638
100
422.745
100
São típicos movimentos temporários de população o turismo (objetivos: lazer e cultura); peregrinação ou romaria (objetivo religioso, como os muçulmanos ao visitarem Meca; os católicos, os judeus e muçulmanos - Jerusalém; os hinduístas - Benares, sua cidade santa, ou o rio sagrado que é o Ganges); o nomadismo; a transumância; os deslocamentos urbanos (migrações pendulares e turbulência).
A harmonização de interesses das empresas hoteleiras e das agências de viagens (com seus pacotes turísticos) e a viabilização de grandes movimentos de pessoas devido aos avanços tecnológicos nos meios de transportes trouxeram um alento fortíssimo ao turismo. A Europa, em 1996, atraiu 350 milhões de turistas, que lá consumiram cerca de US$ 215 bilhões, buscando o lazer de seus atrativos naturais e históricos.
O nomadismo é mais um modo de vida, em vias de desaparecimento, do que propriamente uma migração. É típico das estepes semiáridas do Sahel (S do Sahara) e do centro-oeste da Ásia (Usbequistão, Turquestão, Casaquistão) e no Oriente Médio.
Já estudamos que o Sahel e o Casaquistão sofrem um processo de desertificação - o primeiro, em face da destruição das gramíneas e pisoteamento dos solos pelo gado, além da mudança da agricultura tribal de subsistência pela monocultura; o segundo, por causa da irrigação do cultivo de algodão, aumentando a evaporação e diminuindo o débito fluvial dos rios Amu-Darya e Syr-Darya no Mar de Aral que está secando.
O nômade e sua família acompanham o gado em busca de pastos, na medida em que estes escasseiam, vivendo, pois, em tendas desmontáveis. No caso do Oriente Médio os nômades são comerciantes, estabecendo-se provisoriamente perto de comunidades com suas feiras - tão logo o mercado esteja abastecido, mudam de lugar.
A transumância é uma migração sazonal (depende das estações do ano) e ocorria na Europa Mediterrânea e ainda se dá no nordeste do Brasil.
No sul da Europa, o pastor acompanhava o rebanho entre 2 áreas complementares, enquanto sua família é sedentária. Esta migração sazonal devia-se ao fato de que no inverno as pastagens alpinas estão cobertas de neve, ficando difícil alimentar o rebanho ovino; em face disto, o pastor dirigia-se para o sopé dos Alpes, onde neva menos e assim os pastos não ficam permanentemente nevados, deixando sua família mais acima. No sopé dos Alpes, além de cuidar do rebanho, tomava conta dos cultivos mediterrâneos (oliveiras, pereiras, macieiras, videiras - de que, aliás, os países meridionais europeus são os maiores produtores mundiais).
Quando chegava o verão, o pastor retornava para o alto com o seu rebanho. A transumância na Europa está deixando de existir na medida em que a Europa se regionaliza com a UE e parte para a competição globalizante com a APEC e a NAFTA; além disso, nas planícies litorâneas cada vez mais se cultivam batata e trigo em uma transumância comercial em grandes propriedades, além da criação intensiva e moderna de gado bovino, ovino e caprino.
No nordeste do Brasil os minifundiários do Sertão, em face da seca, vão trabalhar nos latifúndios monocultores de cana-de-açúcar na Zona de Mata (litoral). Cessada a estiagem do Sertão (interior) semi-árido, retornam a ele.
Os deslocamentos urbanos se constituem pelas migrações diárias que se fazem nas das grandes cidades; são representadas pelas migrações pendulares e pela turbulência.
As migrações pendulares recebem esta denominação pelo fato de se manifestarem pelo grande movimento diário de trabalhadores da periferia (subúrbios) para a área central da cidade de manhã, invertendo-se o movimento à tarde, quando retornam para suas casas. Constitue-se, portanto, numa dinâmica de migração centro« periferia.
Simultaneamente às migrações pendulares, acontece na área central um movimento de curta duração e muita agitação, de manhã e de tarde, chamado de turbulência (ou "rush"). As migrações pendulares têm sua intensidade condicionada ao tamanho das grandes cidades, fazendo com que se valorize mais o solo urbano na área central e forçando os trabalhadores a residirem cada vez mais longe nas "cidades-dormitórios" ou satélites, aumentando o tempo de duração deste movimento centro« periferia.
B) Migrações quanto ao espaço de deslocamento das populações - podem ser externas e internas.
a) Migrações externas (ou internacionais) ocorrem quando as populações transpõem as fronteiras entre países. A emigração e a imigração, em verdade, são duas etapas de um mesmo movimento - a de saída (emigração) do país de origem, e a de entrada (imigração) no outro de destino.
Essa dinâmica de mobilidade geográfica externa de população (emigração® imigração) muda de acordo com a época e os fatores de atração e expulsão.
A Europa no século XIX foi um continente de emigração, em virtude do alto crescimento vegetativo da população, das revoluções liberais e nacionalistas (como na Alemanha e Itália em seu movimento de unificação), da falta de terras e empregos.
De 1950 a 1970 desenrolou-se a "era de ouro" das migrações externas. Com a reconstrução econômica pelo Plano Marshall, a Europa Ocidental tornou-se uma área de imigração de africanos e asiáticos (onde estava havendo a descolonização), como, por exemplo, de marroquinos e argelinos para a França (tendo como porta de entrada a Espanha, pelo porto de Algeciras, no sul); de indianos para a Inglaterra. Para a Alemanha foram atraídos os "gastarbeiter" turcos e gregos.
Depois de l970, com uma crise geral de recessão e desemprego decorrentes da Revolução tecnocientífica e do neoliberalismo, providenciaram-se medidas restritivas à imigração a fim de não concorrer com mão-de-obra nacional.
Os EUA são um país essencialmente de imigração em face de sua hegemonia, lá ingressaram cerca de 40 milhões de europeus, de l840 a 1920 - chamados de pioneiros no século passado (hoje: "velhos imigrantes"); depois, os latino-americanos (especialmente os "chicanos" e caribenhos) e asiáticos - chamados de "novos imigrantes"após a II Guerra Mundial
Com a recessão a partir da década de 70 adotou-se uma legislação restritiva à imigração: em 1990, o Presidente George Bush decretou uma Lei de Imigração, confirmando leis anteriores, regulando a entrada e residência de imigrantes. A partir de 1/4/97 quem não tiver o "green card" poderá ser expulso do país.
O Oriente Médio antes das crises do petróleo, na década de 70, era uma área de emigração; com os aumentos vertiginosos deste combustível naquela década tornou-se uma área de imigração de muçulmanos do N da África e do S da Ásia. Atualmente, com a queda e estabilização da cotação mundial do petróleo, com os conflitos (Guerra do Golfo, Israel x palestinos) é área de emigração novamente, como dos curdos (perseguidos pelos turcos e iraquianos), dos palestinos e dos libaneses.
A Europa Oriental, a CEI e certos países subdesenvolvidos são áreas de emigração de mão-de-obra qualificada ("fuga de cérebros").
A África Ocidental atraia, com suas plantations, as populações do Sahel, que dali saíam em face das secas e fome.. Atualmente está havendo emigrações daí para as áreas petrolíferas da Nigéria.
Hong Kong atraiu chineses, mas a partir de 1 de julho de l997, ao sair da Comunidade Britânica e voltar à soberania chinesa, está havendo emigração de empresários para a Inglaterra e Austrália.
b) Migrações internas - dentre elas destacam-se o êxodo rural, migração campo® cidade, que pode ser tanto intra (dentro) como inter-regional (de uma região para outra).
No século XVIII, com a primeira fase da Revolução Industrial na Inglaterra, ocorreram os "cercamentos" no campo, decorrendo o êxodo rural, o que era bom para a burguesia, pois a mão-de-obra tornou-se abundante e barata. Atualmente, nas áreas centrais (Europa Ocidental, América Anglo-Saxônica e Japão) praticamente não se efetua esta migração campo-cidade, pois são muito industrializadas e urbanizadas (cerca de 80% da população é urbana). Já nos países subdesenvolvidos, em especial os industrializados da América Latina, acentuou-se o êxodo rural após a II Guerra Mundial (ex.: o Brasil tinha 69% de população rural, hoje está em torno de 24%).
O processo do êxodo rural é distinto entre países centrais e periféricos quanto à época histórica, aos fatores de atração e de repulsão e aos seus resultados na urbanização.
Quanto à época histórica, o êxodo rural nos países desenvolvidos da Europa ocorreu especialmente nos séculos XVIII e XIX, portanto na primeira e segunda fase da Revolução Industrial; já nos países periféricos acentuou este movimento após a II Guerra Mundial, urbanizando enormemente a população. Como evidência disso: em l950 haviam só 3 cidades de países subdesenvolvidos - Xangai, Buenos Aires e Calcutá, entre as 10 mais populosas da Terra; em l995, são 8 cidades - a do México, S. Paulo, Xangai, Beijing, Buenos Aires, Seul, Rio de Janeiro e Bombaim.
Quanto aos fatores de expulsão da migração campo® cidade, constatamos o seguinte:
·                     Nas áreas desenvolvidas a expulsão demográfica de populações rurais deveu-se à adoção de novas tecnologias, em especial a mecanização em face da própria dinâmica do mercado interno, vitalizando as inter-relações campo-cidade nos países centrais pela Revolução Agrícola. No S e SE do Brasil, após a década de 70, houve a mecanização com a agricultura comercial, aumentando o êxodo rural.
·                     Nos países periféricos em geral, deve-se ao baixo padrão de vida dos camponeses (dificuldade de acesso à escola, a tratamento médico e de saneamento básico, além da renda baixa), visto que a maioria dos que migra são pequenos proprietários, que não contam com o apoio governamental (para a melhoria de técnicas agrícolas através de empréstimos subsidiados) e não conseguem concorrer com grandes proprietários (formadores de uma aristocracia rural poderosa, dona do poder político e econômico), assim perdendo suas terras ou sendo expulsos delas (como acontece com os sem-terra no Brasil).
Quanto aos fatores de atração demográfica, observa-se o seguinte:
·                     Nos países desenvolvidos a industrialização (decorrente da I e II fases da Revolução Industrial) abriu oportunidades de empregos nas cidades (a população do setor primário passou para o secundário); quem recebe salário, torna-se consumidor de produtos de lojas, armazéns, lazer (fazendo expandir o setor terciário), criando-se um mercado interno cada vez mais dinâmico.
·                     Nos países periféricos, o que estimula a população rural vir para a cidade é a influência dos meios de comunicação, como a televisão, mostrando suas ruas asfaltadas e iluminadas, suas escolas, áreas de lazer. Como quem migra é um deserdado e excluído, diz-se que o êxodo rural é uma transferência da pobreza do campo para a cidade.
A conseqüência do êxodo rural, tanto em países centrais como em periféricos, é a urbanização integrada e desarticulada, respectivamente. Suas características são:
® Urbanização integrada ou articulada - assim chamada porque a indústria criou empregos e modernizou a agricultura, aumentando sua produtividade e dinamizando a divisão local de trabalho, articulando o campo com a cidade, diminuindo a população rural (que migrou) e aumentando a urbana (exercendo atividades secundárias e terciárias). Durou cerca de um século na Europa e deveu-se a fatores de transformações no campo (modernização com a mecanização). Observe o esquema acima.
® Urbanização anômala ou desintegrada - não integrou cidade« campo, criando anomalias setoriais e urbanas. O setor terciário cresceu muito mais que o secundário, ocorrendo sua hipertrofia ou inchação, com o parasitismo social (traficantes, mendigos,pivetes) e o subemprego ( camelôs, faxineiras...). Nas cidades contrastam formas urbanas modernas (como shoppings, supermercados) com as sub-habitações da periferia (como as favelas, os cortiços), muitas vezes sem saneamento básico.
 Esta urbanização anômala intensificou-se a partir da década de 50, devido a fatores de estagnação do campo (estrutura agrária arcaica), acelerando o êxodo rural e a crescimento urbano, dificultando a absorção dos migrantes rurais nos setores urbanos de produção, aumentando a pobreza na periferia urbana, dificultando a racionalização de investimentos em infraestrutura de transportes, escolas, hospitais, saneamento básicos e piorando a qualidade de vida nas cidades.
3.3.3. - Conseqüências gerais da mobilidade espacial das populações
Quando grupos humanos migram, ocorre um processo de ocupação, povoamento e organização do espaço geográfico. No local de destino desses grupos pode haver outros povos. Quando se efetuam contatos entre povos afins étnica e culturalmente, simplesmente os grupos migrantes se adaptam ao novo meio social, se entrosa e há uma miscigenação étnica e cultural. Pode, também, acontecer uma difusão cultural (em que a cultura superior predomina sobre a inferior) ou a formação de quistos raciais em "ghettos" (não-assimilação dos grupos em contato social e cultural devido a preconceitos de cor, ou cultura, ou profissão - atualmente os imigrantes exercem, via de regra, funções não qualificadas).
Estudamos, outrossim, que há uma perda de mão-de-obra qualificada, ou "fuga de cérebros, de certos países subdesenvolvidos, mas especialmente da Europa Oriental e Rússia, acarretando prejuízos para os países de emigração, pois arcaram com os custos de formação da mesma.
Sob a alegação da perda de identidade nacional e, notadamente, em função da competição da mão-de-obra imigrante com a local em conjunturas não-favoráveis de recessão e desemprego, surgem grupos neonazistas xenófobos e racistas, avessos a estrangeiros (ex.: holligans, skinheads na Europa Ocidental) e a restrição à imigração nas fronteiras (ex.: latinoamericanos e asiáticos nos Estados Unidos, africanos e asiáticos na Europa). Os espanhóis constroem atualmente um muro entre Ceuta e Melila (suas possessões em Marrocos) para dificultar a ida de africanos para a União Européia.
Geralmente as imigrações apresentam o sentido de direção dos países ou regiões mais pobres para os mais ricos. Sendo assim, está ocorrendo a remessa de poupança desses imigrantes para os seus países de origem. Na década de 70, tal remessa orçava em torno de US$ 5bilhões; em 1995, foi em torno de US$ 75 bilhões. Patenteia-se tal fato pelos dekasseguis (brasileiros filhos de japoneses que estão no Japão trabalhando) e pelos turcos da Alemanha, mandando dinheiro para suas famílias nos países de origem.
3.4. - ESTRUTURA DA POPULAÇÃO MUNDIAL
 (estudo da composição etária, sexual e ocupacional da população).
3.4.1. - Estrutura etária e sexual da população
A - Estrutura etária
A população é dividida em 3 faixas etárias: jovem (até l9 anos); adulta ou madura (de 20 a 59 anos de idade); senil, velha ou idosa (após 60 anos). É analisada pela pirâmide etária, representação gráfica em forma de triângulo, em cujo centro ou nas laterais colocam-se as faixas etárias; à direita, o percentual do sexo feminino; à esquerda, o percentual do sexo masculino. A pirâmide etária demonstra o processo evolutivo demográfico de um país, dependendo do crescimento vegetativo (mostrado na base da pirâmide etária) e da expectativa de vida da população (quanto menor for o corpo e o ápice da pirâmide, menor é a expectativa de vida) e retrata o seu desenvolvimento social e econômico (países pobres apresentam base larga e corpo cada vez mais afunilando devido ao alto crescimento vegetativo e baixa expectativa de vida, vice-versa com os países centrais).
Está havendo uma "revolução demográfica", em que a pirâmide etária está cedendo lugar a um "retângulo demográfico" - segundo dados da ONU em l995, na Alemanha os idosos representavam 35,8% da população absoluta, em 2010 será de 43,9%, em 2050 será de 67,2% e a PEA cairá para menos de 20%. Isto afetará os programas de seguro-doença e velhice não só na Alemanha, como na Europa Ocidental (com exceção da Bélgica), nos Estados Unidos e Japão.
A estrutura etária da população está condicionada às particularidades do crescimento vegetativo, dos processos migratórios (geralmente quem migra é o homem, portanto em áreas de saída de população predomina o sexo feminino), de guerras. Além disso, ela retrata os indicadores sociais e demográficos (população escolarizável, maior ou menor disponibilidade de mão-de-obra no mercado, expectativa de vida, investimentos sociais em escolas, hospitais, etc.) e condiciona o encargo econômico da população ativa (que trabalha e recebe um salário) em referência à inativa (a que não recebe salário).

B - Tipos e particularidades da estrutura etária das populações
Países
Jovens (%)
Adultos (%)
Velhos (%)
Suécia
24,8
52,0
23,2
Japão
29,0
52,4
18,6
E.U.A
31,0
52,3
16,7
Brasil
46,5
46,4
7,1
Egito
50,8
42,9
6,3
Nigéria
58,4
37,4
_ 4,2___
Quanto à estrutura etária, os países desenvolvidos podem ser velhos e em fase de envelhecimento; enquanto os países subdesenvolvidos são de população jovem. Vejamos o quadro e vamos analisá-lo.
 a) Regime demográfico senil - países de população envelhecida (Europa Ocidental)
A base da pirâmide etária é estreita, pois já completaram sua transição demográfica desde l920, com crescimento vegetativo pequeno (entre 0 e 1%) ou negativo e pouca população jovem (cerca de 30%). Há mais população ativa que inativa, portanto menor o encargo econômico (ex: custos de educação).A expectativa de vida é elevada (ex.: Holanda= 76 anos), em face do alto padrão de vida, com a maior porcentagem de idosos; a TM ocorre mais devido às doenças de degenerescência ou de velhice (como as cardiopatias, neoplasias, etc.).
Apenas cerca de 3l países possuem regime demográfico senil; entretanto, a tendência é de aumentar: em l960 havia 5% de velhos no planeta, no final do século deverá ser de 6,5%.
Os efeitos da velhice demográfica são: a redução das taxas de natalidade e de fecundidade humana; elevação dos custos de aposentadoria e de assistência médica à população senil; alterações no perfil social e cultural da população na medida em que a população velha é mais conservadora e que a mão-de-obra estrangeira vem suprir a demanda de funções não-qualificadas (lixo, limpeza pública).
b) Países em fase de envelhecimento (exemplo: os da América Anglo-Saxônica)
A tendência do crescimento natural é de 0% (ZPG ou "zero populational growth"), estando, portanto, no caminho da senilidade demográfica. A base da pirâmide etária está diminuindo, em face da redução das taxas de natalidade e de fecundidade humana e, assim, da população jovem. A expectativa de vida é elevada, pois apresentam alto padrão de vida.
O Brasil era um país jovem na década de 70, mas a partir da década de 80 começou a participar do regime demográfico maduro, pois sua população está envelhecendo, embora continue a ser um país subdesenvolvido, com grandes contrastes sociais e econômicos e 6 milhões de mulheres esterilizadas em l986.
c) Regime demográfico jovem dos países subdesenvolvidos.
Cerca de 50% da população é jovem, refletindo-se em elevadas taxas de fertilidade humana e de crescimento vegetativo e numa base larga da pirâmide etária.
As laterais da pirâmide etária se adelgaçam após os 40 anos, devido à baixa expectativa de vida de suas populações, em especial a dos 31 países mais pobres, nos chamados "bolsões de pobreza" da África subsaarianal (em número de 21), da Ásia Meridional e Oriental (que são 8), da América Central (é o Haiti) e da Oceania (é Samoa), que ainda estão na primeira fase de transição demográfica. Já a maioria dos países periféricos está na segunda fase de transição demográfica. Como tem alto CV, tem mais população jovem e inativa e alto encargo econômico (necessidade de investimentos em educação).
Em face de sua incapacidade econômica e técnica, estes países destinam pequena porcentagem de seu PNB aos investimentos sociais (educação, saúde, saneamento), como, por exemplo, a Nigéria que aplica apenas 4,1% dos seus US$34 bilhões de PNB nestas necessidades; a Índia investe apenas 0.7% do PIB em saúde. Por outro lado, os países industrializados, como os EUA, investem mais (13,8% de seu PNB de 5,7 trilhões de dólares em pesquisas médicas e educação).
Conforme previsões da ONU, no período de 1960 a 2000, a juventude demográfica permanecerá nos países africanos; a maturidade demográfica na América Latina, S e SE da Ásia; a velhice demográfica estará representada também pela América Anglo-Saxônica e Ásia Oriental, além da Europa. A população idosa no mundo evoluirá de 4,9%, na década de 60, para 12% no ano 2.000, enquanto a população jovem vai decrescer para 20% nos países desenvolvidos, conforme dados da ONU.

C) Particularidades da estrutura sexual da população
a.            Há certa proporção equilibrada entre os sexos na população da América Latina, SE da Ásia e África; enquanto na Europa, na CEI e EUA há relativamente mais mulheres. Dos 209 países do planeta, 107 têm mais mulheres, 86 tem mais homens e em l6 há equilíbrio. Quem migra a grandes distâncias é o homem, daí em áreas de emigração há mais mulheres (5 a 6%). A partir do ano 2.000 haverá uma proporção igual entre homens e mulheres no conjunto da população, de acordo com dados da ONU.
b.            A mortalidade masculina é maior que a feminina, esta com maior expectativa de vida (daí o topo da pirâmide etária ser um pouco mais largo à direita).
c.            A porcentagem de população ativa feminina é maior nos países centrais, em face da urbanização. As mulheres do meio urbano recorrem mais a meios anticoncepcionais que as do meio rural, portanto a sua taxa de fertilidade é menor. Contudo, ela recebe uma remuneração menor que a do homem, mesmo tendo a mesma qualificação profissional, na maioria dos países; além disso, luta contra preconceitos sexuais quanto a sua inteligência e papel social, particularmente nos países periféricos, nos islâmicos (ainda submetidas às tradições religiosas e patriarcais) e nas áreas rurais. Nas classes populares, elas são submetidas a uma dupla jornada de trabalho, pois trabalham em casa e ainda exercem funções extra-domésticas, a fim de complementar a renda do marido. Finalmente, a mulher ainda é transformada em objeto de consumo pela mídia.
3.4.2. - ESTRUTURA OCUPACIONAL DA POPULAÇÃO (Distribuição Setorial da PEA)
A) Introdução
A distribuição da renda nacional é importante na análise da estrutura de uma população, que apresenta uma estratificação (divisão em classes sociais) e mobilidade social tanto maior quanto mais dinâmica e rica for a sociedade. Nos países desenvolvidos as lutas sindicais, a legislação social, a rede de assistência hospitalar e as oportunidades educacionais redistribuíram mais equitativamente a renda nacional.
Nos subdesenvolvidos, porém, a distribuição de renda é injusta; a elite está mais voltada para os interesses do mercado externo, do que à melhoria do poder aquisitivo dos trabalhadores. Além disso, criam um sistema legal e tributário que onera mais as classes trabalhadoras e menos os empresários e financistas que operam com capital especulativo. O sistema tributário é constituído mais de impostos indiretos (que recai sobre todos os cidadãos, mais grava mais sobre os pobres) do que diretos (que incide sobre quem ganha mais).
O desemprego, o trabalho flexível das políticas de globalização e do neoliberalismo tem aguçado mais ainda o problema da concentração de riqueza.
B) Relações entre a PEA e os custos de formação do indivíduo
População economicamente ativa, ou PEA, é a que exerce uma atividade extra doméstica e por ela recebe uma remuneração. Os que estão participando efetivamente do mercado de trabalho incluem-se na população ocupada. População economicamente inativa, ou PEI, é a que não trabalha (crianças, inválidos), ou que, mesmo trabalhando não é remunerada (estudantes, domésticas). Quando a população ativa está efetivamente inserida no mercado de trabalho e não desempregada, diz-se que é uma população ocupada.
A relação entre a PEA e a PEI está condicionada à estrutura etária e sexual da população, bem como ao desenvolvimento econômico dos países. As estatísticas sobre estas relações não são muito conclusivas, devido ao subemprego e à economia informal. Mesmo assim, sabemos que os países desenvolvidos apresentam mais população ativa que a inativa; podemos, assim, concluir que eles têm um encargo econômico menor que o dos países periféricos (menor sobrecarga dos ativos em relação aos inativos, visto que os mesmos apresentam maior crescimento vegetativo e mais população jovem).
B) Estrutura Setorial da PEA
Países
Setor primário
Setor secundário
Setor terciário
PEA (%)
PEI (%)
Bangladesh
57,2 %
12,1 %
30,7 %
28,0
72,0
Brasil
23,3
23,8
52,9
43,2
56,8
EUA
2,9
25,6
71,5
50,1
49,9
Índia
66,4
12,5
21.1
29,3
70,7
Japão
6,5
33,7
59,8
52,2
47,8
França
4.6
26.2
69.2
43.8
56.2
Fonte: Banco Mundial (1995)
Representa a distribuição da PEA pelos setores primário (agricultura, pecuária, extrativismo), secundário (indústrias) e terciário (serviços: comércio, bancos, escolas) de produção. O setor primário de produção é rural, mas com a verticalização das atividades econômicas com os complexos agroindustriais cada vez mais se industrializa a agropecuária.
A organização das atividades econômicas nos 3 setores mencionados acima é discutível - em primeiro lugar, devido ao fato de que, com a Revolução tecnocientífica, surge o setor quaternário (pesquisa) que está incluído estatisticamente no terciário; em segundo lugar, o setor terciário, ao lado de sua função complementar dos setores primário e secundário (por ele se induz ao consumo dos produtos agropecuários e industriais) exerce uma função notável de aumento de produtividade nos setores primário (pela biotecnologia elaborada em laboratórios) e secundário (pela automatização, robotização, informática). É o processo denominado de terciarização, que esquematizamos no gráfico acima.
A função do setor terciário, portanto, não é apenas indireta em relação ao consumo (induzindo-o pela propaganda), mas também direta na produção (já que inclui o setor quaternário, que surgiu com a Revolução científica e tecnológica, compreendendo as pesquisas em laboratórios e universidades).
Cabe lembrar, também, que com a terceirização está havendo a alocação de serviços antes incluída apenas em atividades terciárias (ex.: antes o setor de restaurante da Volkswagen era ocupado por empregados da própria empresa, hoje ela contrata empresas que prestam este serviço). A terceirização representa a outorga a terceiros (firmas de porte médio e pequeno que realizam serviços) aquilo que não é a função específica de uma empresa no seu processo produtivo.
Os setores urbanos de produção - o secundário e o terciário - formam 2 circuitos econômicos, conforme o geógrafo Milton Santos: o inferior e o superior. Os circuitos de economia inferior (ou informal) e superior (ou formal e legal) são opostos, mas complementares e diferentes quanto à tecnologia, organização, regime de trabalho. O circuito inferior depende do superior, independente do desenvolvimento econômico dos países e emprega mais mão-de-obra que o superior, seus estoques são menores, as despesas administrativas são pequenas, as relações com os clientes são mais personalizadas, etc. Veja o resumo:
Circuitos
Crédito
Estoques
Empregos
Capital
Tecnologia
Organização
Superior
Bancário e institucional
Grandes e qualitativos
reduzidos
importante
capital-intensivo
burocrática
Inferior
pessoal
pequenos
volumoso
Pouco volume
trabalho-intensivo
primitiva
A distribuição setorial da PEA revela o desenvolvimento dos países.
a) Países subdesenvolvidos - Os pré-industriais são aqueles que ainda não fizeram sequer uma Revolução Agrícola, ponto inicial para deslanchar o processo de crescimento econômico de um país, pois representa uma mudança profunda na economia rural, de subordinada à natureza e ao trabalho humano para outra com maior tecnologia e produtividade.
Países
PNB per capita US$
Produto agrícola
% da exportação
% população rural
Etiópia
30
café
72
85
Rep. Centro-Africana
280
café
47
55
Chade
80
algodão
91
72
Desta forma, estes países apresentam a maior parte de sua PEA no setor primário, usando, pois, mais energia braçal, como em Bangladesh (57% de PEA na agricultura), Índia (55%) e Uganda (85%).
O espaço geográfico da produção e da circulação é desarticulado, com pequena interdependência na divisão local e regional de trabalho: no campo predomina uma agricultura de auto-consumo complementar à plantation (esta nas melhores terras); nas cidades situam-se fábricas de bens de consumo semiduráveis (alimentares e têxteis), que exige tecnologia simples e mão-de-obra pouco qualificada e abundante (o que não falta, pois o crescimento vegetativo de sua população é elevado).
Estas sociedades rurais de baixo poder aquisitivo constituem mercado interno muito fraco (até a rede ferroviária é litorânea, ligando áreas produtoras aos portos para facilitar a exportação, demonstrando a submissão ao mercado mundial de "commodities").
Os países subdesenvolvidos industrializados como o Brasil, México, Argentina (na América Latina), a África do Sul e os "tigres asiáticos" apresentam características setoriais da PEA diferentes. Como Cingapura e Hong Kong são "paraísos fiscais", CIDADES-ESTADOS e portos estratégicos de rotas marítimas internacionais apresentam grande parte da sua população ativa nos setores urbanos e muito pouco na agricultura (em Cingapura há apenas 1% da sua PEA no setor primário), sendo, portanto, uma estrutura setorial atípica para países subdesenvolvidos.
Nos países subdesenvolvidos industrializados da América Latina, o Brasil apresenta 23% da PEA no setor primário, a Argentina 12% (semelhante a de países industrializados), o secundário com 25%. A industrialização é tardia (feita desde o fim da I Guerra Mundial), desintegrada e multinacionalizada (após a II Guerra Mundial) produzindo para uma parcela pequena da população.
O êxodo rural foi tão acentuado nestes países que as indústrias não foram capazes de absorver a população que migrou do campo, acarretando um acúmulo de PEA nos setor de serviços: é a hipertrofia do setor terciário de produção (ou terciarização hipertrofiada), com 53% da PEA, retratando-se no parasitismo social (meninos de rua, traficantes, assaltantes, mendigos) e no subemprego (camelôs, vendedores de praia, faxineiras, etc., sem carteira assinada e fazendo trabalhos ocasionais), estimulando mais o circuito inferior da economia. Esta urbanização é denominada de urbanização terciária pelo geógrafo Milton Santos.
b) Países centrais - o que individualiza setorialmente estes países é a porcentagem pequena de PEA no setor primário de produção, pois com sua modernização deu-se uma Revolução Agrícola, diminuindo a necessidade de mão-de-obra e aumentando a produtividade rural.
A Revolução Industrial e Agrícola processada nestes países criou uma economia de produção em escala (em quantidade e variedade para um mercado consumidor de alto poder aquisitivo, formado por uma sociedade de consumo de massa). A industrialização foi integrada, estimulando a interdependência da divisão local de trabalho e a interação dos agentes de produção e consumo no mercado interno.
Estes países altamente industrializados com tecnologia de ponta representam o centro da economia capitalista atual, em face do seu amplo domínio do espaço globalizado e multipolar atual.
As grandes empresas e os governos são os maiores financiadores de pesquisas de alto nível (terciário superior ou quaternário), que exigem um elevado volume de capital para investimentos. Em face disto, as transnacionais precisam fabricar seus produtos em grande quantidade e comercializá-los rapidamente em escala planetária, a fim de cobrirem estes gastos em pesquisa - esta é uma das causas da globalização e regionalização em megablocos.
A Revolução tecnocientífica nesses países protagoniza a criação de cidades científicas, ou tecnópolis (ex.: Tsukuba, a mais famosa entre outras l9 do Japão; Sillicon Valley, nos EUA; Toulouse, Paris-sul e Île-de-France na França) onde se desenvolvem atividades quaternárias de pesquisa em laboratórios de grandes empresas e universidades integradas localmente como com o resto do mundo, através dos fluxos telemáticos ou infovias (a mais formidável rede de comunicação do espaço geográfico terrestre).
Em virtude do avanço tecnológico nos transportes e comunicações, está ocorrendo uma dispersão das indústrias, não condicionadas mais tanto às matérias-primas e fontes de energia como antes, e, por isso, descentralizando as unidades produtivas, mas concentrando a sua gestão e coordenação em metrópoles ou nos países centrais. Está havendo, pois, uma desterritorialização das ações do homem no espaço geográfico pelos fluxos da telemática.
Nestes países centrais, cria-se uma Terceira Onda, no dizer de Alvin Tofler, com base na indústria eletrônica e de computação (1o núcleo), espacial (segundo núcleo), aproveitamento das riquezas de mares e oceanos (3o) e biotecnologia (quarto núcleo) e alterações substanciais nos meios de comunicação de massa. Surgem novas profissões, especialmente no circuito superior da economia.
 
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